Resenha - Sono
Sono
Haruki Murakami
Editora Alfaguara
120 páginas
Tradução de Lica Hashimoto
É o décimo sétimo dia em que não consigo dormir.
É com essa frase que Haruki Murakami, autor do qual ainda falarei muitas vezes neste blog, abre o livro Sono, lançado no Brasil pela Alfaguara. De poucas páginas - são 120, com letras grandes e espaçamento idem, além de páginas ilustradas -, Sono é fácil de devorar naquele horário vago depois do almoço do trabalho. Eu, pelo menos, levei uns 40 minutos lendo e achei que fui lerda...
A protagonista é uma dona de casa, mãe de um menino e esposa de um dentista, que não consegue mais dormir após um pesadelo. Nele, um velho está próximo a sua cama, e de repente começa a derramar sobre os pés da protagonista um fluxo contínuo de água, como se estivesse regando uma planta. Tomada pelo horror, ela acorda encharcada de suor, e percebe que seu sono não voltou mais. A estranha insônia não a esgota nem física nem mentalmente, de maneira que ela consegue ficar em estado de vigília por dias e manter sua saúde intacta. Ciente de que não conseguiria explicar de forma plausível sua situação para qualquer um, ela tenta manter toda a rotina normal de mãe e esposa, escondendo o fato das pessoas que conhece.
Diferente dos dias em que conseguia dormir normalmente ao lado do marido, a protagonista agora consegue realizar alguns pequenos prazeres enquanto permanece de olhos bem abertos. Apreciar chocolate, reler Anna Karênina e nadar melhor estão entre as atividades que ela passa a fazer enquanto seu filho e seu marido permanecem na mesma vida diária. É como se, após viver um cotidiano entediante e mecânico em torno da família, tudo ganhasse mais brilho, mais vigor. A realidade de agora é mais atraente, ainda que para isso é preciso estar privada de sono.
Por ser um trabalho breve de Murakami, é melhor eu parar por aqui, antes que eu revele coisas demais sobre o enredo. Só senti ao final um estranhamento, pois para mim o conto acabou de repente, em um momento tenso da protagonista. A história poderia continuar e nos poupar do suspense presente na última página. Mas pontas soltas na história de Murakami não coisas incomuns, então dá para relevar.
Avaliação: