quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Assista a este anime - Sailor Moon Crystal




Em 2012, quando a série de TV de Sailor Moon completou 20 anos, veio o anúncio de que uma nova animação, batizada de Sailor Moon Crystal, seria feita pelo estúdio Toei Animation. Foi uma notícia muito boa para quem acompanhou a série pela finada Manchete ou pelo Cartoon Network e cultivava uma grande nostalgia em torno da criação de Naoko Takeuchi. Entretanto, foram necessários dois anos para que a nova série fosse lançada, já que alguns adiamentos ocorreram pelo caminho. A estreia só ocorreu em julho de 2014, com transmissão mundial simultânea pelo site Niconico Douga.

Acompanhei parte da série clássica de Sailor Moon pela Manchete, que exibia o anime no horário da manhã, em 1996. Na época, as revistinhas de notícias sobre quadrinhos e séries de TV, como a Herói, da editora Nova Sampa, e a Heróis do Futuro, da editora Press, eram as únicas fontes de informação disponíveis sobre animes. Era apenas através delas que conseguia saber algo mais sobre Naoko Takeuchi e suas Sailors. Foi em torno dessa rede de elementos – infância, rede Manchete, revistinhas que meu pai comprava - que guardei com muito carinho tudo aquilo que lembrava Sailor Moon.

A chegada de Sailor Moon Crystal, em 2014, não me animou nem um pouco em acompanhar o reboot. Quase duas décadas depois de ter visto a série clássica, senti apenas decepção, porque o “parâmetro de qualidade” que eu tinha era a série antiga. Foi como se estivessem fazendo remendos em algo que já estava pronto, finalizado. Lembro que falei: “Esse reboot de Sailor Moon deve ser ruim, a começar pelo character design dos personagens! Nossa, que feio!”.

DESCULPA, USAGI!

Eu criei uma certa resistência, afinal a série clássica fazia parte daquela época boa da infância, e qualquer coisa que tentasse substituí-la seria um desastre. Mas nessa última semana que antecedeu o Natal fiz uma maratona das temporadas disponíveis de Sailor Moon Crystal – já foram exibidas três até agora - para, a partir daí, tirar minhas impressões sobre o reboot. E mordi minha língua, porque o que assisti foi algo realmente bom!


Impressões e comparação

Cada uma das fases – ou arcos – de Sailor Moon Crystal é composta de 14 a 12 episódios de menos de 30min de duração. Já foram exibidas três fases até agora: Dark Kingdom, Black Moon e Death Busters. Dark Kingdom corresponderia ao que foi exibido pela Manchete, mas de forma bem sucinta. Aliás, não sei se “corresponder” seria adequado, já que a série clássica dos anos 90 continha muitos fillers, e o propósito de SMC é seguir fielmente o mangá. A próxima fase, que começa no primeiro semestre de 2017, será a de Dead Moon Circus.


Na nova série, Usagi mantém suas características mais conhecidas: desleixada nos estudos, romântica, desastrada, fominha, chorona etc. Mas senti em SMC que ela sofre muito, o que ocorre talvez porque nesta nova série o drama não fica diluido em historinhas bobas, como os fillers da série anterior. A ação e a tensão aparecem mais concentradas, e não se perde tempo com episódios que não acrescentam ao enredo. Coadjuvantes como Naru, Umino e Motoki – conhecidos na versão da Gota Mágica como Molly, Kelvin e Andrew – permaneceram, mas não ganharam episódios dedicados a eles.

Perder o horário, quem nunca?

Usagi e Mamoru tem um relacionamento muito bom – digamos que há um clima lovey-dovey entre os dois, muito melhor do que aquele clichê típico de novela, em que o casal não se bica por um longo período até que a implicância se transforma em amor. A transformação deles em casal se dá até rápido – amém! -, o que me interessou bastante. Os beijos e as demonstrações de carinho são mais frequentes também <3


Tuxedo Kamen tirando casquinha 😘
 
( ͡° ͜ʖ ͡°)

Rápida também é a revelação de cada uma das Sailors cuja missão é acompanhar a Sailor Moon/Usagi na luta contra o mal. Basicamente, a primeira fase apresenta Ami, Rei, Minako e Makoto em episódios quase que seguidos, diminuindo bastante o intervalo entre o aparecimento de cada guerreira lunar. Mamoru/Tuxedo Kamen também tem um desenvolvimento rápido na trama, se envolvendo com Usagi nos primeiros episódios.

As Sailors que não aparecem na fase clássica, como ChibiMoon, Netuno, Urano, Plutão e Saturno, são bem aproveitadas na segunda e terceira fases de SMC. Confesso que estava ansiosa para vê-las em ação, pois não acompanhei as fases exibidas pelo Cartoon Network. Haruka, Michiru, Setsuna e Hotaru, apesar de parecerem não muito amigáveis quando surgem, mostram-se fortes, protetoras e preocupadas com as demais Sailors.



Sobre a animação

A animação em si é muito boa, como é de se esperar de um reboot produzido em 2014. Na primeira fase, a transformação das Sailors contém uma textura bem diferente da animação tradicional, já que parece que inseriram algo de computação gráfica nos movimentos. Veja abaixo a diferença entre o make up da primeira fase e a terceira.



A primeira fase não me atraiu muito em relação ao character design: as Sailors estão muito magras, o rosto muito angular, e o desenho dos olhos parece bem desproporcional. A cabeça das Sailors, dependendo do ângulo, torna o desenho das personagens meio grosseiro. O character designer melhorou muito a partir da terceira fase, com suavização dos traços do rosto e melhoras na proporção da cabeça. Os olhos ficaram mais arredondados e combinaram melhor com a beleza das meninas.
 
1ª fase - Dark Kingdom
3ª fase - Death Busters

As cores usadas no reboot são mais sombrias, refletindo a tensão da história e o drama por trás de alguns personagens. Não sei se é algum tipo de tendência, mas depois que assisti a Mahou Shoujo Madoka Magica comecei a ver que o mundo das guerreiras mágicas de anime do século XXI não segue mais aquela explosão de cores das mahou shoujo dos anos 90.

A abertura e o encerramento não mantiveram as músicas das séries anteriores. No encerramento há mais opções, como a música de Tuxedo Kamen, o encerramento com ChibiMoon e o casal Haruka e Michiru.


Conclusão

Como já disse anteriormente, mordi minha língua julgando Sailor Moon Crystal sem ao menos ter visto um episódio da série. O enredo de cada episódio segue cada capítulo do mangá, sem a encheção de linguiça comum a séries de sucesso. O humor ainda está lá, mas comedido, e isso é bom, pois deixa a série bastante focada na ação e nos dramas dos personagens. Os antagonistas são fracos, seguem um padrão de atuação que já deixa antever o resultado, mas o que importa é entreter os fãs, e não transformar a série em objeto de análise mais aprofundada.

O clima de romance entre Usagi e Mamoru é bom, achei que eles estão soltinhos até demais para um padrão japonês. Mamoru se importando muito com Usagi e ChibiUsa é uma das coisas mais agradáveis de assistir em Sailor Moon Crystal!

Se você não assistiu a SMC, sugiro que confira, o resultado está muito bom! Fiz a maratona em quatro dias e me arrependi, porque o negócio acabou rápido mesmo. Agora é aguardar março de 2017 para a quarta temporada, torcendo para que ela mantenha a mesma empolgação das fases anteriores.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Resenha: Trilogia do Castelo Animado - Parte I




O Castelo Animado
Diana Wynne Jones
Tradução de Raquel Zampil
Galera Record
318 páginas


Diana Wynne Jones, escritora britânica falecida em 2011, deixou uma vasta obra, composta de mais de 50 títulos publicados em quatro décadas de carreira. Dentre os vários enredos fantásticos criados pela prolífica autora, uma série desponta como uma de suas obras mais famosas: a Trilogia do Castelo Animado. No Brasil, o selo infanto-juvenil Galera Record, pertencente à editora Record, trouxe o primeiro livro da série em 2007, tendo encerrado a trilogia  em 2010. A boa recepção do público aos enredos de Diana Wynne Jones motivou a editora carioca a trazer mais dois títulos da britânica, O Vitral Encantado e Tesourinha e a Bruxa, ambos não relacionados com o universo da trilogia que resenharei aqui.

O Castelo Animado, primeiro livro da trilogia, talvez seja o título mais conhecido de Wynne Jones, já que o diretor japonês Hayao Miyazaki e seu Stúdio Ghibli transformaram o enredo em um longa-metragem animado em 2004. A reputação de Miyazaki e a boa adaptação do livro ajudaram a divulgar o nome e os trabalhos da escritora em vários países onde provavelmente ela nem seria publicada. Lendo algumas resenhas do livro na rede social literária Skoob, dá para ver que muitos leitores só foram conhecer Diana Wynne Jones após terem assistido ao filme do diretor japonês.


Os demais livros da trilogia, O Castelo no Ar e A Casa dos Muitos Caminhos,  não foram adaptados para o cinema. Isso não quer dizer que eles sejam ruins, muito pelo contrário. São duas histórias independentes em relação ao primeiro livro, com protagonistas distintos, mas que de alguma forma se envolvem com a magia. Os personagens do Castelo Animado fazem aparições nos últimos dois títulos, não apenas porque as localidades em que se passam as três histórias sejam vizinhas, mas porque Sophie e cia podem ajudar, através da magia, a resolver os problemas enfrentados pelos protagonistas.


O Castelo Animado

Segundo um velho ditado no reino de Ingary, nas famílias que possuem três filhas, a mais velha será a primeira a fracassar quando todas elas partirem de casa em busca da própria sorte. Sophie Hatter, 18 anos, é a garota “sortuda” do ditado, e por isso já está conformada com seu provável destino. Filha de um próspero vendedor de chapéus, ela vive confortavelmente em Market Chipping ao lado de suas irmãs Lettie e Martha, até que chega o dia em que a saída de casa se torna inevitável.

A morte do pai provoca uma mudança na família Hatter: Fanny, mãe de Martha e madrasta das outras duas meninas, precisa encaminhá-las para a vida lá fora, já que não poderá sustentá-las. Lettie é enviada para trabalhar em um restaurante famoso de Market Chipping, o Cesari's; Martha vai virar aprendiz de feiticeira com a Sra. Fairfax; e Sophie, por ser a mais velha, herda o negócio da família. Não é muito legal e nem interessante cuidar de chapéus, mas ela já está acostumada a costurar e a conversar com os modelos postos à venda na chapelaria.

Em mais um dia trabalhando na loja, Sophie é surpreendida pela visita da Bruxa das Terras Desoladas, que acusa a garota de se meter em seus planos. Sophie não entende o que a bruxa quis dizer com isso e é atingida por um poderoso feitiço, que a transforma em uma idosa de 90 anos no mesmo instante. Sem saber como voltar ao normal e com medo de não ser reconhecida pelas irmãs e por sua madrasta, a Sophie idosa sai de casa e segue sem rumo, até parar no Castelo Animado do terrível mago Howl.

Segundo boatos que correm em Ingary, o mago é conhecido por seduzir mulheres e devorar seus corações. Mesmo sabendo do risco que corre, Sophie tenta a sorte no castelo de Howl, onde desempenhará vários serviços domésticos, para desespero do mago. Lá, ela conhecerá o jovem Michael, aprendiz de Howl, e o demônio do fogo Calcifer, responsável por manter o castelo em movimento. Ao lado de seus companheiros de viagem, Sophie tentará, através de um perigoso acordo, quebrar o feitiço e retomar sua vida normal. Só que a Bruxa das Terras Desoladas está atrás de Howl, o que poderá atrapalhar a volta de Sophie ao seu estado normal.

Minhas impressões
Como vários leitores, só fui conhecer o livro depois de ter visto o filme. Fiquei encantada pelo mago Howl mostrado no longa, retratado como um jovem cavalheiro e gentil, além de lindo. Quando peguei o livro, reparei que o Howl criado por Diana Wynne Jones era descrito como um jovem bonito também, só que com o caráter duvidoso: canalha, evasivo, drama queen, extremamente vaidoso, impaciente e arrogante. Sophie também é mostrada de maneira diferente no livro, sendo uma garota de gênio forte, que fala o que pensa, curiosa e enxerida. No filme, ela é mais contida e um pouco tímida, não mostra a mesma determinação da garota/idosa retratada no livro.

Para fazer esta resenha, tive que reler o livro e assistir ao filme novamente porque não me lembrava de várias coisas da história Depois me dei conta de que Miyazaki fez muitas “gambiarras” no enredo, talvez para que o filme tivesse uma duração razoável. É mais ou menos como se ele tivesse criado uma nova história, mantendo o plot do livro mas mudando muitas coisas ao redor. O resultado dele ficou bem interessante, apesar das muitas omissões feitas em relação ao enredo original.

Com relação ao livro, é possível ver como Sophie sai de um estado de monotonia para viver situações que ela nunca havia imaginado. Sua vida ganha movimento justo no momento em que ela vira uma velhinha de 90 anos. A avançada idade permite certas liberdades que ela não teria se ainda fosse uma jovem de 18 anos e vendedora na chapelaria da família. Para desespero de Howl, Calcifer e Michael, Sophie não fica quieta por muito tempo, está sempre procurando algo para fazer, como mostra sua mania de limpar e organizar o que não precisa (ou o que Howl não quer que ela mexa).

Howl tem seus vários defeitos, mas demonstra ter bom coração. Seu talento para a magia, potencializado pelo contrato feito com Calcifer, é um perigo e também uma vantagem contra a Bruxa das Terras Desoladas. A magia também é utilizada para fins mais banais, como fazer com que moças ingênuas fiquem apaixonadas por ele. Em boa parte do livro, Howl passa muito tempo fora para ir atrás de garotas, levando com ele boa parte do dinheiro obtido com os feitiços vendidos às pessoas comuns.

A trama de Castelo Animado é bem estruturada, os personagens são bem construídos e com características que fogem de clichês. Sophie não fica parada esperando que o herói a salve, Howl não é exemplar em termos de caráter e Calcifer não é um demônio cruel. Graças a este último, o castelo pode estar em vários locais ao mesmo tempo, mudança que é controlada através de um disco colorido ligado à porta principal. Através dela, a história muda constantemente de cenário e novos personagens ligados ao passado de Howl surgem.

O Castelo Animado é um excelente livro, que mostra um universo mágico de modo simples, sem se ater a muitos detalhes, como descrever todos os ingredientes de um feitiço. Simplicidade que não quer dizer que a história seja pobre ou fácil demais, mas que diz o que precisa ser dito sem enrolar o leitor. A trilogia do Castelo é uma ótima oportunidade para quem deseja conhecer Diana Wynne Jones e depois trilhar por conta própria pelos vários títulos e mundos fantásticos criados por ela.

Astral do livro


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