quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Resenha: Voragem



Voragem
Junichiro Tanizaki
Companhia das Letras
240 páginas
Tradução de Leiko Gotoda

A obsessão e a manipulação são dois elementos frequentes no livro Voragem, de Junichiro Tanizaki, publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras. É uma leitura agradável, rápida e envolvente sobre uma trama amorosa que leva seus integrantes às últimas consequências.

A protagonista e narradora deste enredo trágico é Sonoko Kakiuchi, jovem de classe média e esposa do advogado Eijiro Kakiuchi. Ela dialoga frequentemente no texto com um sensei, pessoa cuja identidade não é revelada ao longo do enredo. O sensei, no caso, é uma pessoa geralmente instruída ou mais experiente, que toma o papel de orientador- no Japão, professores, médicos e advogados são geralmente chamados por este título. O enredo se passa na década de 1920, quando o Japão aos poucos adquire os modos ocidentais.

Após um caso extraconjugal que não foi pra frente, Sonoko decide esquecer seu antigo amante e passa a frequentar atividades geralmente voltadas para donas de casa como ela, como aulas de trabalhos manuais e artes. As aulas provocam uma mudança em seu comportamento e agradam ao marido, mas também vão introduzir em suas vidas a figura de Mitsuko Tokumitsu, filha de uma família de comerciantes abastada.

No começo, Sonoko e Mitsuko frequentam a mesma escola de artes, mas não se conhecem. Somente após boatos maldosos sobre as duas serem espalhados entre as alunas é que as protagonistas vão se conhecer de fato, e tornam-se boas amigas a partir daí. Deslumbrada pela beleza de Mitsuko, Sonoko vai aos poucos tentando um contato mais íntimo com ela, conseguindo o que quer graças à desculpa de terminar um retrato. Tendo como ateliê improvisado o quarto do casal Kakiuchi, Sonoko e Mitsuko se envolvem profundamente. Mitsuko, mimada e manipuladora, é ciente da beleza que ostenta, e faz dessa atração uma arma para explorar seus amantes.

Mitsuko se mostra como uma personagem bastante ardilosa, capaz de arrastar em sua trama perigosa não apenas Sonoko, mas outros personagens diretamente relacionados às protagonistas, como o próprio Eijiro Kakiuchi. Mas o leitor é apresentado, no meio do livro, a um outro personagem tão ardiloso quanto Mitsuko, e que talvez explique boa parte de seu comportamento tortuoso. Sonoko, ingênua, torna-se facilmente manipulada em todo o enredo. Aliás, manipulação, chantagem e mentiras muito bem elaboradas fazem parte constante do livro.

Voragem é um excelente livro

Astral do livro:


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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Resenha: Assassinato no Monte Fuji



Assassinato no Monte Fuji
Shizuko Natsuki
Editora Brasiliense
217 páginas
Tradução de Sonia Goldfeder

Assassinato no Monte Fuji, de autoria de Shizuko Natsuki, fez parte de uma leva de autores japoneses publicados na década de 1980 pela editora Brasiliense. É o único livro da autora publicado no Brasil, e encontra-se fora de catálogo, sendo possível comprá-lo em sebos.

Este enredo policial curto e interessante inicia com a visita da americana Jane Prescott, convidada por sua amiga japonesa Chiyo Wada a passar os festejos de Ano Novo no Japão, em um das residências da riquíssima família Wada, proprietária de um importante laboratório farmacêutico. A vinda de Jane também é motivada pela ajuda que a amiga americana dá a Chiyo, que está prestes a se formar em uma universidade feminina e precisa terminar sua tese em tempo.

Um pouco hesitante pelo fato de ser uma estrangeira a entrar num ambiente familiar em pleno Ano Novo, Jane é recebida pela família Wada e conhece os tipos que se reúnem na mansão da família, próxima ao Monte Fuji. Ela conhece a mãe, o padrasto da jovem, o tio-avô Youhei e seu irmão Shigeru, a tia-avó Mine, o jovem Takuo e o médico Shohei. Todos possuem relações um pouco conturbadas entre si, sendo que a única pessoa que desfruta de maior consideração entre eles é Chiyo.

Tudo parecia correr bem até que a tranquilidade da família é interrompida por um assassinato dentro da casa, que envolverá Jane e Chiyo, bem como outros membro dos Wada, em um plano sórdido que se desenrolará na parte final, quando tudo parecia ter sido resolvido nos capítulos anteriores.

Este livro me pareceu, a princípio, mais um enredo chato e óbvio no qual o truque do "quem matou" típico de novelas é sabido desde o começo. Estava quase para desistir de ler esse livro, mas resolvi dar uma chance para ver se ele conseguiria me surpreender. Todos os dados do crime pareciam ter sido dados de bandeja ao leitor no começo, mas uma virada ocorre na segunda metade do livro. O leitor acompanha as questões levantadas pelos investigadores, a confrontação das provas e dos testemunhos da família Wada, e só vai saber de fato a verdade nas páginas finais.

Sinceramente, não curti muito este livro. Achei interessante o fato de ler um título de suspense japonês, mas o enredo e os personagens não despertaram, pelo menos para mim, a vontade de acompanhar tudo avidamente como eu gostaria. Jane Prescott, que era para ser a protagonista, parece sumir no enredo e só voltar na parte final, ajudando os investigadores a solucionar o crime de uma maneira que não me convenceu. Esperava que o suspense pudesse me prender até o final, mas o que ocorreu é que eu terminei de ler este livro mais ou menos por me sentir obrigada. Isso foi o que senti em relação ao livro.

Astral do livro:




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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Resenha: Sayonara, Gangsters



Sayonara, Gangsters
Genichiro Takahashi
Ediouro
296 páginas
Tradução de Jefferson José Teixeira


Um livro caótico, nonsense, cheio de espaços vazios nas páginas: é assim "Sayonara, Gangsters" de Genichiro Takahashi, por enquanto o único título do autor publicado no Brasil. Passado em um futuro próximo, o enredo de Takahashi é marcado por uma série de acontecimentos bizarros na vida de um professor de poesia, afetada pelas ações de um grupo terrorista conhecida como Os Gangsters. 

No mundo em que vive o protagonista, as pessoas não possuem mais nomes normais, que os pais dão aos filhos assim que eles vêm ao mundo: as pessoas nomeiam umas às outras, ou a própria pessoa decide que nome usar. Nomes e sobrenomes normais são utilizados apenas por celebridades e pessoas importantes, enquanto os cidadãos considerados comuns desfilam uma série de absurdos onomásticos. Os interessados em um novo nome fazem filas enormes na prefeitura, enquanto os funcionários responsáveis pelos registros jogam os nomes antigos em um rio. Os nomes descartados se espremem, brigam entre si, e são alvo de chacota das crianças.

O professor de poesia, nomeado "Sayonara, Gansgters", vive ao lado de uma mulher que ele achou entre dois sacos de lixo. Ela é logo nomeada "Song Book de Miyuki Nakajima"; o gato que a mulher traz consigo é Henrique IV, um leitor ávido de romances e que é alimentado com leite e vodka. Antes de viver com Song Book, o professor foi casado e teve uma filha, nomeada de Mindinho Verde (mas que ele chamava de Caraway). Enfim, já deu pra perceber o ar da coisa...

Nas aulas de poesia, o professor se depara com uma série de alunos impensáveis, como o filósofo-refrigerador Virgílio, uma coisa não definível, uma velhinha com um monstro de gila e uma moça que recebe telefonemas de um homem, entre outros personagens excêntricos. A história não segue necessariamente um esquema linear, porque o professor de poesia traz à tona acontecimentos anteriores misturados a fatos do presente. 

No começo, achei o livro bem engraçado, com diálogos "WTF?!!" dos personagens bizarros. Um exemplo é o diálogo entre o professor de poesia e Song Book, no momento em que eles se encontram pela primeira vez:


- Sabe, na verdade sou lésbica e frígida. Fiquei assim quando o São Bernardo que eu criava se tornou amante de mamãe.
- Não brinca!, aconteceu igualzinho comigo!Tornei-me um homossexual impotente desde o dia em que quebrei o apontador de lápis que eu usava na escola elementar.  

Nas passagens em que o professor de poesia tenta explicar o que ele faz, como ele começou a escrever, o leitor sente que o protagonista é um incompreendido. Ele pensa muito em poesia, até que esses pensamentos começam a provocar acidentes em seus trabalhos. Há poucos leitores de seus trabalhos, e um deles é sua própria mãe, que recebe as poesias e envia de volta uma quantia em dinheiro. Para ela, o que há por trás dos versos de seu filho é um pedido de ajuda financeira! 

"Sayonara, Gangsters" é divertido no começo, mas na medida em que se avança na leitura o livro parece perder um pouco de seu fôlego. Mesmo assim, vale a pena dar uma olhada nesse livro caótico, que tem até duas páginas de mangá shoujo e explicações desenhadas vindas de um jupiteriano.

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sábado, 29 de setembro de 2012

Resenha: Kitchen



Kitchen
Banana Yoshimoto
Nova Fronteira
168 páginas
Tradução de Julieta Leite



"Kitchen" era um dos livros que estavam na minha listinha de aquisições, mas não era um dos mais desejados. Tinha como prioridade comprar os livros do Haruki Murakami que me faltavam - Minha Querida Sputnik, Kafka à Beira-Mar, entre outros -, mas o preço deles, mesmo os de segunda mão, estavam muito além do que eu estava disposta a gastar. Dando uma boa garimpada no site da Estante Virtual, e já com um dinheirinho separado para as compras literárias, busquei o nome da Banana Yoshimoto e, bingo!, várias opções de preço bom para "Kitchen". 

Havia, claro, muitos preços tentadores, mas as opções de pagamento dos sebos que atraíram minha atenção não eram boas. E as condições dos exemplares, descritas pelos livreiros, davam a entender que muitos deles estavam em estado razoável (o que gerou um certo receio de comprar). Por sorte, achei um livreiro que colocou um exemplar em ótimas condições, por um preço um pouquinho maior que o dos demais vendedores, mas com frete camarada.

Recebi o livro rapidamente, e logo que abri o pacote já me lembrei do tratamento gráfico dado pela Nova Fronteira ao único título da Yoshimoto publicado no Brasil. Sobrecapa, capa com papel texturizado, uma folha de papel vegetal estampada com flor de cerejeira antes da folha de rosto. Achei muito bacana todo o cuidado para um livro que foi lançado em 1995. Um tipo de tratamento gráfico que é difícil de achar em livros atuais. Como eu havia dado uma pausa na leitura de "Quarto Escuro", de Junnosuke Yoshiyuki, achei melhor começar a ler "Kitchen" para não atrapalhar o andamento do blog.

Bem, agora vamos ao que interessa de fato, que é a história. "Kitchen" é dividido em três partes, sendo que as duas primeiras são ligadas entre si, e a segunda, chamada de Moonlight Shadow, é uma história diferente. 

A história da primeira parte tem como protagonista a jovem Mikage Sakurai, órfã de pai e mãe, e que acaba de perder recentemente a avó, seu último laço de sangue. Sozinha na casa onde viveu por um bom tempo, Mikage encontra consolo no ambiente que mais gosta: a cozinha, que, obviamente, é o "kitchen" do título. O período de tristeza decorrente do vazio familiar acaba com o convite da família Tanabe, que vê a solidão da garota e decide ajudá-la.

O convite a Mikage chega com o jovem Yuichi, atendente da floricultura onde a avó da garota ia com frequência. Sem conhecer direito o rapaz, que a ajudou no funeral da velhinha, Mikage decide aceitar o convite e vai até a casa dos Tanabe. Lá ela conhece a mãe do rapaz, Eriko, e acaba encontrando um ambiente acolhedor em um momento difícil. Os três acabam formando uma divertida família.

A segunda parte é uma continuação, aberta com uma perda chocante para Mikage (e também para o leitor). Mas aí vemos como a personagem se desenvolve, colocando um ponto final na solidão que sempre a perseguia.

Moonlight Shadow, que fecha o livro, tem como personagem principal a jovem Satsuki, que sofre a perda de seu namorado em uma tragédia. Para superar a dor, ela contará com a ajuda de personagens um tanto excêntricos, que também foram afetados por perdas trágicas. Há uma pincelada de fantasia nessa terceira parte, que ajudará os personagens a não ficarem mais imóveis e remoendo sempre suas perdas.

Todas as três partes giram em torno do tema da perda, da morte que pega as pessoas de supetão e as deixam desnorteadas por um certo tempo. Os textos são simples e leves, mesmo tocando em um assunto terrível que é a morte. Mas numa comparação entre as três partes, as duas primeiras me agradaram mais, talvez porque a história de Mikage se encerre e se desenvolva de maneira mais convincente que a Moonlight Shadow, que me deu a sensação de incompletude. Mas Moonlight não é ruim, muito longe disso; apenas achei que faltou mais história, que a autora poderia esticar só mais pouquinho! (Digo isso porque estava gostando muito do livro)

Depois de terminar "Kitchen", fiquei triste por ver que nenhuma outra editora se interessou em trazer mais títulos da Banana Yoshimoto para o Brasil. A autora tem mais de 30 títulos publicados no Japão, e muitos deles já foram publicados na Ásia, Europa e América do Norte. Há títulos traduzidos por editoras portuguesas, mas são caros e demoram mais de dois meses para chegarem. Penso na possibilidade de importar os que forem acessíveis ao meu bolso, mas até isso acontecer vai demorar um bocado. 

Astral do livro:






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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Resenha: Um grito de amor do centro do mundo



Um grito de amor do centro do mundo
Kyoichi Katayama
Editora Alfaguara
155 páginas
Tradução de Lica Hashimoto

"Um grito de amor do centro do mundo" foi lançado em 2011 pela editora Alfaguara, conhecida por lançar os títulos mais recentes de Haruki Murakami no Brasil. De autoria de Kyoichi Katayama, o livro alcançou grande sucesso na época de seu lançamento no Japão, em 2001, tendo vendido milhões de cópias e dado origem a mangá, série de TV (dorama) e a um filme. A série de TV  ficou famosa no Japão, ganhando adaptação para a televisão sul-coreana também. 

O título havia me chamado a atenção depois de eu ter visto o dorama, protagonizado por Haruka Ayase como Aki e Takayuki Yamada como Sakutarô. Confesso que quando assisti a série fiquei com uma dor imensa na garganta, segurando o choro de tão triste que é a história. O enredo é clichê, daquelas histórias românticas em que um casal tem sua vida abalada pela doença grave de um dos parceiros, e o que se vê é o desenrolar de uma tragédia. Ai que droga!! :/

Chamou a atenção também o fato de que Katayama teve a ideia de escrever o livro após ler uma frase dos pensadores franceses Felix Guattari e Gilles Deleuze, que consta no livro "O que é filosofia": "o amor é um tipo de violência que nos obriga a pensar".

No mesmo ano em que eu havia visto o dorama (isso em 2007),  soube que o mangá inspirado no livro seria lançado pela editora JBC. Com o título Socrates in Love, a versão em quadrinhos não me satisfez muito, por ser uma história bem reduzida, sem os detalhes que me encantaram na série de TV. Procurei saber se o livro tinha alguma versão em português, mas nada. Só 4 anos depois é que o livro chegou por uma boa editora.

A história mostra o desenvolvimento do amor entre Aki Hirose e Sakutarô Matsumoto, dois jovens que vão se conhecendo melhor depois de visitar um colega de classe internado, chamado Oki. Estudando na mesma classe, os dois vão pouco a pouco construindo uma relação bela, cercada também de muita reflexão sobre a vida, o amor e a morte. A história é contada por Sakutarô e não segue uma narrativa linear, já que as passagens vividas ao lado de Aki se embaralham com fatos recentes lembrados pelo protagonista.

Aki é uma menina popular na escola, representante de classe ao lado de Sakutarô, o que desperta a inveja dos demais rapazes da escola. Mesmo fora do ambiente escolar, os dois estão sempre juntos, nas andanças e cumplicidade que posteriormente se transformam em um romance. Nas conversas, traçam planos para o futuro, no qual um não se vê sem o outro. 

O clima de amor adolescente se quebra com o repentino adoecimento de Aki, acometida por uma grave enfermidade. Com o organismo seriamente comprometido, a garota passa os dias internada no hospital, muitas vezes sem poder ter o contato com Sakutarô. O agravamento da saúde da garota faz com que os planos do jovem casal fiquem cada vez mais distantes. Ciente do que pode acontecer, Sakutarô toma a iniciativa de realizar pelo menos um dos desejos de Aki. 

"Um grito..." é rápido e fácil de ser lido, com um texto simples e acessível, fato que não tira a sensibilidade da história. Pensei que leria um texto muito meloso, digno dos dramalhões, mas o que vi foi algo diferente, um diálogo recheado de reflexões. Há claro, as juras entre o casal - seria muito estranho se elas não existissem -, mas nada de exageros. 

Confesso que senti uma ponta de tristeza depois de terminar o livro, mesmo já sabendo como tudo terminaria. Apesar da premissa clichê, a história é bonita de ser lida, pois mostra como em algum momento da vida nós iremos nos separar das pessoas mais especiais que passaram pela nossa existência.

Astral do livro:









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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Resenha: O marinheiro que perdeu as graças do mar



O marinheiro que perdeu as graças do mar
Yukio Mishima
Editora Rocco
155 páginas
2ª edição
Tradução de Waltensir Dutra


Este livro de Yukio Mishima foi o segundo que li até agora, depois de "Mar Inquieto". Lembro que "O marinheiro que perdeu as graças do mar" foi comprado numa dessas lojas tipo 1,99, provavelmente vindo de algum estoque encalhado de livraria. A edição que peguei é de 1986, lançada pela Rocco, que poderia trazê-la de volta ao seu catálogo.

"O marinheiro que perdeu as graças do mar" tem como protagonistas o menino Noboru, sua mãe Fusako Kuroda e o marinheiro Ryuji Tsukazaki. Noboru é órfão de pai e possui uma vida confortável ao lado de sua mãe, que administra o comércio de itens de luxo da família desde a morte de seu marido. Ryuji é o segundo piloto do navio Rakujo e é também um homem não muito sociável, que vê na profissão de marinheiro uma maneira de escapar da terra, viajando pelos mais diversos cantos do planeta.

O enredo começa com Noboru sendo trancado no próprio quarto à noite pela própria mãe, situação humilhante para um menino de 13 anos. Certa manhã, sozinho em casa, Noboru começa a mexer nos móveis de seu quarto, até descobrir um pequeno furo na parede, escondido em meio às gavetas de uma das cômodas. O furo permite ao garoto enxergar o que se passa no quarto ao lado, que pertence a sua mãe.

Numa noite, o garoto espia o quarto ao lado através do furo na parede e vê Fusako e Ryuji fazendo sexo. A partir desse envolvimento entre a mãe e o marinheiro, Noboru começa a alimentar um sentimento de ódio e desprezo em relação a Ryuji, anotando o que seriam pontos negativos do marinheiro em um diário. Sua rejeição ao novo parceiro da mãe é levada constantemente para as conversas da gangue da qual faz parte: seis meninos de 13 anos que compartilham uma repulsa ao mundo dos adultos e à figura paterna. Longe dos olhos dos adultos, todos os integrantes da gangue comportam-se de maneira nada inocente.

O romance é centrado basicamente no desenrolar do relacionamento entre Fusako e Ryuji, e como o marinheiro passa a encarnar a figura paterna para Noboru. A viúva briga com seus próprios sentimentos e reluta até certo ponto em admitir sua paixão pelo marinheiro, enquanto este quer que Fusako seja o motivo para ficar em terra firme. Diferente de muitos de seus colegas que viraram marinheiros porque gostavam do mar, Ryuji virou um oficial da marinha mercante porque não gostava da imobilidade da terra. Por fim, o marinheiro acaba trocando a vida no mar pelo amor localizado na terra firme.

A presença de Ryuji na casa e nos negócios da família Kuroda, substituindo o marido falecido de Fusako, acaba por abalar o mundo de Noboru. O menino, que ficou órfão de pai aos oito anos, agora é chamado de filho pelo marinheiro, algo considerado grave para a gangue - pais são considerados um estorvo para o progresso dos filhos, depositando seus sonhos não realizados na prole. É contra a figura de Ryuji e o perigo que ele representa a Noboru que a gangue passará a agir com mais frieza e violência. O desfecho o autor não entrega de bandeja, mas o leitor consegue imaginar o que se segue depois de terminada a leitura.

É um livro bonito, mas que se torna cruel principalmente nas reuniões da gangue de Noboru, com os meninos que voltam seu ódio ao mundo adulto. As passagens focadas nos sentimentos de Fusako e de Ryuji mostram o quanto um deseja o outro, e nas reservadas a Noboru o que se vê é uma inquietação do menino, um incômodo com a figura do marinheiro que trocou o mar por uma vida comum.

O livro é curto mas bem envolvente, algo que me surpreendeu. Digo isso porque quando li "Mar Inquieto", quase 10 anos atrás, tinha uma grande expectativa sobre as obras de Mishima, alimentada principalmente depois de ler uma reportagem na revista Bravo. Fiquei decepcionada com o enredo de Mar Inquieto, provavelmente porque foi a primeira leitura que fiz de um autor diferente do que estava acostumada a ler. Mas agora que fui cativada pela leitura de "O marinheiro...", acho que vou dar uma segunda chance à outra obra de Mishima.

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domingo, 23 de setembro de 2012

Resenha: Por favor, cuide da mamãe





Por favor, cuide da mamãe
Kyung-Sook Shin
Editora Intrínseca
240 páginas

Tradução de Flávia Rössler


"Por favor, cuide da mamãe" é um livro tocante e triste escrito pela sul-coreana Kyung-Sook Shin, autora bem-sucedida em seu país. Tendo vendido mais de um milhão de exemplares em mais de 20 países, o título foi trazido ao Brasil pela editora Intrínseca, que vem surpreendendo o mercado editorial brasileiro com um catálogo crescente, recheado de best sellers e livros para o público jovem.

O livro de Kyung-Sook Shin gira em torno do desaparecimento de Park So-Nyo, a figura materna do título, que rumava com seu marido à casa do filho mais velho em Seul. Como era de costume, So-Nyo e o marido comemoravam seus aniversários na mesma época. Depois que os filhos saíram de casa e deixaram de visitá-los no interior da Coreia do Sul, os pais iam frequentemente à capital comemorar a ocasião com a família. Os meios mais usuais para chegar à casa de Hyong-Chol, o primogênito, eram a carona no carro de algum parente ou algum táxi.

Entretanto, na última viagem que fizeram juntos, Park So-Nyo e o marido decidiram pegar o metrô, diferente do que sempre faziam. O pai sempre caminhava na frente, enquanto a mãe o seguia com seus passos lentos. Com problemas de saúde, idosa e cansada, a mãe So-Nyo não conseguiu acompanhar o marido na ida a um dos vagões do metrô, ficando perdida em meio à multidão, sem qualquer bagagem ou mantimento. A partir daí, começa a saga da família em tentar trazer a mãe de volta ao lar.

O livro divide-se em cinco capítulos, sendo que em quatro deles é possível conhecer melhor a figura de Park So-Nyo a partir das figuras da terceira filha, do primogênito, do pai e da própria mãe desaparecida. Por meio desses quatro capítulos, sabe-se que a mãe tinha facetas desconhecidas pelo restante da família, e que muitos de seus defeitos e virtudes só foram reconhecidos com seu desaparecimento. O esforço de So-Nyo em criar os filhos e lidar com um marido insensível enquanto desistia de seus próprios desejos emerge nas páginas, acompanhado de outros fatos que a família foi descobrindo a partir do momento em que se inicia a busca. Ao longo do livro, percebe-se o agravamento da saúde da mãe, vítima de um derrame que provavelmente teria colaborado para seu desaparecimento no metrô de Seul.

A escrita do livro é um tanto diferente do que estou acostumada a ler. O capítulo em que os familiares relembram de So-Nyo não são em primeira pessoa, mas em segunda, sempre com o uso do "você". É como se a cada capítulo o leitor se colocasse na pele de um dos familiares, pensasse como cada um deles. Um recurso interessante para sentir um pouco do arrependimento e do remorso que os filhos e o marido sentem quando relembram do que passaram ao lado de So-Nyo. É aquela história em que só damos valor para as coisas e as pessoas quando as perdemos. Triste, mas é verdade.

No capítulo voltado a So-Nyo, no entanto, a narração em segunda pessoa dá lugar à primeira. É a mente da mãe pensando e falando com cada familiar e amigo empenhado em sua busca. Bem, é melhor eu parar por aqui... 

"Por favor, cuide da mamãe" não é o tipo de livro que me prende e me faz perder a noção das horas, mas não deixou de ser uma leitura interessante e sensível, triste em muitas passagens - principalmente por focar no sofrimento da mãe. Dá pra ter uma noção do contraste entre a situação de pobreza em que a família de So-Nyo vivia no interior, e a ascensão social dos filhos numa Coreia do Sul que vai enriquecendo e sendo tomada por prédios modernos. Ascensão que deve muito ao sacrifício da mãe, que colocou seus sonhos em segundo plano para dar uma condição melhor aos seus descendentes.

Astral do livro:






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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

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