quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Resenha: Trilogia do Castelo Animado - Parte I





O Castelo Animado
Diana Wynne Jones
Tradução de Raquel Zampil
Galera Record
318 páginas


Diana Wynne Jones, escritora britânica falecida em 2011, deixou uma vasta obra, composta de mais de 50 títulos publicados em quatro décadas de carreira. Dentre os vários enredos fantásticos criados pela prolífica autora, uma série desponta como uma de suas obras mais famosas: a Trilogia do Castelo Animado. No Brasil, o selo infanto-juvenil Galera Record, pertencente à editora Record, trouxe o primeiro livro da série em 2007, tendo encerrado a trilogia  em 2010. A boa recepção do público aos enredos de Diana Wynne Jones motivou a editora carioca a trazer mais dois títulos da britânica, O Vitral Encantado e Tesourinha e a Bruxa, ambos não relacionados com o universo da trilogia que resenharei aqui.

O Castelo Animado, primeiro livro da trilogia, talvez seja o título mais conhecido de Wynne Jones, já que o diretor japonês Hayao Miyazaki e seu Stúdio Ghibli transformaram o enredo em um longa-metragem animado em 2004. A reputação de Miyazaki e a boa adaptação do livro ajudaram a divulgar o nome e os trabalhos da escritora em vários países onde provavelmente ela nem seria publicada. Lendo algumas resenhas do livro na rede social literária Skoob, dá para ver que muitos leitores só foram conhecer Diana Wynne Jones após terem assistido ao filme do diretor japonês.


Os demais livros da trilogia, O Castelo no Ar e A Casa dos Muitos Caminhos,  não foram adaptados para o cinema. Isso não quer dizer que eles sejam ruins, muito pelo contrário. São duas histórias independentes em relação ao primeiro livro, com protagonistas distintos, mas que de alguma forma se envolvem com a magia. Os personagens do Castelo Animado fazem aparições nos últimos dois títulos, não apenas porque as localidades em que se passam as três histórias sejam vizinhas, mas porque Sophie e cia podem ajudar, através da magia, a resolver os problemas enfrentados pelos protagonistas.


O Castelo Animado

Segundo um velho ditado no reino de Ingary, nas famílias que possuem três filhas, a mais velha será a primeira a fracassar quando todas elas partirem de casa em busca da própria sorte. Sophie Hatter, 18 anos, é a garota “sortuda” do ditado, e por isso já está conformada com seu provável destino. Filha de um próspero vendedor de chapéus, ela vive confortavelmente em Market Chipping ao lado de suas irmãs Lettie e Martha, até que chega o dia em que a saída de casa se torna inevitável.

A morte do pai provoca uma mudança na família Hatter: Fanny, mãe de Martha e madrasta das outras duas meninas, precisa encaminhá-las para a vida lá fora, já que não poderá sustentá-las. Lettie é enviada para trabalhar em um restaurante famoso de Market Chipping, o Cesari's; Martha vai virar aprendiz de feiticeira com a Sra. Fairfax; e Sophie, por ser a mais velha, herda o negócio da família. Não é muito legal e nem interessante cuidar de chapéus, mas ela já está acostumada a costurar e a conversar com os modelos postos à venda na chapelaria.

Em mais um dia trabalhando na loja, Sophie é surpreendida pela visita da Bruxa das Terras Desoladas, que acusa a garota de se meter em seus planos. Sophie não entende o que a bruxa quis dizer com isso e é atingida por um poderoso feitiço, que a transforma em uma idosa de 90 anos no mesmo instante. Sem saber como voltar ao normal e com medo de não ser reconhecida pelas irmãs e por sua madrasta, a Sophie idosa sai de casa e segue sem rumo, até parar no Castelo Animado do terrível mago Howl.

Segundo boatos que correm em Ingary, o mago é conhecido por seduzir mulheres e devorar seus corações. Mesmo sabendo do risco que corre, Sophie tenta a sorte no castelo de Howl, onde desempenhará vários serviços domésticos, para desespero do mago. Lá, ela conhecerá o jovem Michael, aprendiz de Howl, e o demônio do fogo Calcifer, responsável por manter o castelo em movimento. Ao lado de seus companheiros de viagem, Sophie tentará, através de um perigoso acordo, quebrar o feitiço e retomar sua vida normal. Só que a Bruxa das Terras Desoladas está atrás de Howl, o que poderá atrapalhar a volta de Sophie ao seu estado normal.

Minhas impressões
Como vários leitores, só fui conhecer o livro depois de ter visto o filme. Fiquei encantada pelo mago Howl mostrado no longa, retratado como um jovem cavalheiro e gentil, além de lindo. Quando peguei o livro, reparei que o Howl criado por Diana Wynne Jones era descrito como um jovem bonito também, só que com o caráter duvidoso: canalha, evasivo, drama queen, extremamente vaidoso, impaciente e arrogante. Sophie também é mostrada de maneira diferente no livro, sendo uma garota de gênio forte, que fala o que pensa, curiosa e enxerida. No filme, ela é mais contida e um pouco tímida, não mostra a mesma determinação da garota/idosa retratada no livro.

Para fazer esta resenha, tive que reler o livro e assistir ao filme novamente porque não me lembrava de várias coisas da história Depois me dei conta de que Miyazaki fez muitas “gambiarras” no enredo, talvez para que o filme tivesse uma duração razoável. É mais ou menos como se ele tivesse criado uma nova história, mantendo o plot do livro mas mudando muitas coisas ao redor. O resultado dele ficou bem interessante, apesar das muitas omissões feitas em relação ao enredo original.

Com relação ao livro, é possível ver como Sophie sai de um estado de monotonia para viver situações que ela nunca havia imaginado. Sua vida ganha movimento justo no momento em que ela vira uma velhinha de 90 anos. A avançada idade permite certas liberdades que ela não teria se ainda fosse uma jovem de 18 anos e vendedora na chapelaria da família. Para desespero de Howl, Calcifer e Michael, Sophie não fica quieta por muito tempo, está sempre procurando algo para fazer, como mostra sua mania de limpar e organizar o que não precisa (ou o que Howl não quer que ela mexa).

Howl tem seus vários defeitos, mas demonstra ter bom coração. Seu talento para a magia, potencializado pelo contrato feito com Calcifer, é um perigo e também uma vantagem contra a Bruxa das Terras Desoladas. A magia também é utilizada para fins mais banais, como fazer com que moças ingênuas fiquem apaixonadas por ele. Em boa parte do livro, Howl passa muito tempo fora para ir atrás de garotas, levando com ele boa parte do dinheiro obtido com os feitiços vendidos às pessoas comuns.

A trama de Castelo Animado é bem estruturada, os personagens são bem construídos e com características que fogem de clichês. Sophie não fica parada esperando que o herói a salve, Howl não é exemplar em termos de caráter e Calcifer não é um demônio cruel. Graças a este último, o castelo pode estar em vários locais ao mesmo tempo, mudança que é controlada através de um disco colorido ligado à porta principal. Através dela, a história muda constantemente de cenário e novos personagens ligados ao passado de Howl surgem.

O Castelo Animado é um excelente livro, que mostra um universo mágico de modo simples, sem se ater a muitos detalhes, como descrever todos os ingredientes de um feitiço. Simplicidade que não quer dizer que a história seja pobre ou fácil demais, mas que diz o que precisa ser dito sem enrolar o leitor. A trilogia do Castelo é uma ótima oportunidade para quem deseja conhecer Diana Wynne Jones e depois trilhar por conta própria pelos vários títulos e mundos fantásticos criados por ela.

Astral do livro


Avaliação

 

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