domingo, 27 de dezembro de 2015

Leia este mangá: Tamen de Gushi


Conheci essa webcomic/mangá/manhua chinês através do Tumblr, visitando randomicamente alguns blogs dedicados aos mangás shoujo. Lembro que vi algumas imagens muito bonitas, de um casal em várias situações cotidianas. O traço, que achei que fosse de algum mangá, logo me interessou, e então fui saber do que se tratava após fuçar outros blogs.
Sun Jing e Qiu Tong

Segundo o que li no Tumblr, a/o artista responsável pela webcomic, Tan Jiu, postou suas ilustrações em redes sociais, como o Pixiv – um site japonês para ilustradores mostrarem seus portfólios. As ilustrações retratando um casal logo ficaram famosas, e os apreciadores ficaram curiosos para saber se Tan Jiu tinha pretensão de transformar os personagens em protagonistas de alguma história.

Para sorte dos fãs de Tan Jiu, o romance por trás das famosas ilustrações virou a webcomic Tamen de Gushi, postada periodicamente na página do/a artista na rede social chinesa Weibo. São pequenos capítulos, com uma estrutura que se assemelha ao das tirinhas cômicas japonesas, conhecidas como yonkoma. Fiquei surpresa, pois não imaginava que a webcomic fosse Shoujo Ai/Yuri (não sei qual a classificação em chinês, hahaha), já que eu via um casal hétero quando batia o olho nas ilustrações. Foi bem tosco quando descobri isso, o que não tirou meu desejo de acompanhar o romance entre as protagonistas.

Sobre a história
Sun Jing e Qiu Tong são duas estudantes chinesas, de escolas diferentes. Ambas pegam o mesmo ônibus, no mesmo ponto. Sun Jing, reparando na beleza de Qiu Tong, começa a despertar algum interesse sobre esta última. Decidida a fazer amizade com Qiu Tong, Sun Jing tenta abordá-la, mas a  timidez a impede de falar e o plano vai por água abaixo.

Através de um colega de escola, que conhece pessoas ligadas a Qiu Tong, Sun Jing acaba descobrindo o nome e o local onde estuda seu alvo amoroso. Com coragem, ela vai atrás de Qiu Tong e se apresenta, mas a outra, com receio do que ocorreu anteriormente (e pensando que Sun Jing é uma doida), sai correndo. Felizmente, o mal-entendido é desfeito e as duas se tornam amigas.  Só que Sun Jing tenta, em várias ocasiões, descobrir se Qin Tong sente algo mais forte por ela.

Minhas impressões
Depois da surpresa em saber que Tamen de Gushi era, na verdade,  um romance entre duas garotas, fiquei mais surpresa ainda quando vi que havia uma espécie de subplot yaoi. Enquanto as protagonistas puxam a história para o Shoujo Ai/ Yuri, os personagens Qin Xiong e Xuezhang enveredam pelo Shounen Ai/Yaoi (romance entre garotos). Não tem nada de apelativo ou pornográfico no enredo, como talvez alguns possam pensar; os romances ficam naquele terreno do amor idealizado, puro, sem malícia. Bem, pelo menos já se passaram 85 capítulos e nada de beijos também…

Tamen de Gushi é muito fofo: Sun Jing tenta falar o que sente para Qiu Tong, mas essa é meio lerda para saber o que a outra quer dizer. Mop Head, o amigo de Sun Jing, é quem serve de muro das lamentações quando a garota fica desanimada com o andar do relacionamento com Qiu Tong. É dele, aliás, algumas das passagens mais cômicas da história, principalmente quando cai nas brincadeiras idiotas de sua amiga.

A parte ruim de Tamen de Gushi é que os capítulos são MUITO curtos, em que cerca de seis cliques no mouse significam que o capítulo já terminou. E que você tem que esperar cerca de duas semanas até que Tan Jiu lance umas seis imagens para compor mais um capítulo. Triste, mas é o ritmo de trabalho dela/dele.

Tamen de Gushi
é um romance leve e bem-humorado, com um traço muito bonito de Tan Jiu. Se você não se importa de esperar para ler um romance em conta-gotas, acredito que vale a pena experimentá-lo. Torço muito pelo romance das duas meninas, mas Tan Jiu parece que quer matar os leitores de ansiedade quando lança uns poucos quadrinhos da história a cada mês.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sobre o blog


Este blog foi criado com o intuito de destacar a literatura oriunda da China, da Coreia e do Japão. Enquanto a maioria dos blogs literários abrange títulos das mais variadas nacionalidades, este aqui preferiu focar em um nicho, de maneira a ajudar a divulgar a literatura dos países citados.

Caso tenha alguma sugestão de livro que ainda não foi colocado neste blog, entre em contato pelo formulário, localizado na parte lateral do blog.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Futuros lançamentos da Estação Liberdade


A Estação Liberdade disponibiliza todo ano um catálogo em pdf com os títulos já lançados e os que ainda estão em processo de publicação. De acordo com o catálogo mais recente, voltado para o ano de 2016, há  seis títulos de domínio oriental sendo trabalhados pela editora.

Os títulos no prelo são: O Museu do Silêncio e A Fórmula do Professor, ambos de Yoko Ogawa; Botchan, de Natsume Soseki, e Guerra de Gueixas, de Nagai Kafu (domínio japonês); No País do Cervo Branco, de Chen Zhongshi, e O Garoto do Riquixá, de She Lao (domínio chinês). Infelizmente, não temos nenhuma novidade no domínio coreano.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Resenha: Tsugumi


Tsugumi
Banana Yoshimoto
Estação Liberdade
Tradução de Lica Hashimoto
184 páginas

Após anos sendo ignorada pelas editoras brasileiras, a autora japonesa Banana Yoshimoto teve, finalmente, mais um título lançado no país. Além de Kitchen, publicado em 1988 pela Nova Fronteira, os leitores agora podem apreciar Tsugumi, lançado em outubro com tradução direta do japonês pela Estação Liberdade. Cabe ressaltar aqui que Kitchen atualmente só pode ser encontrado em bibliotecas ou sebos – e eu, se fosse você, iria logo no site da Estante Virtual ou do Livronauta para saber onde adquirir um exemplar, pois é um título que vale a pena ler e ter na estante.

A narradora de Tsugumi é Maria Shirakawa, uma estudante universitária de Tóquio que possui boas lembranças do interior do Japão, mais precisamente da península de Izu, onde morava na Pousada Yamamoto, pertencente aos seus tios. Nos anos em que ficou na pousada, morando com sua mãe até que seu pai resolvesse questões referentes a um relacionamento anterior, Maria convivia com suas primas Yoko e Tsugumi, de temperamentos bem diferentes. Tsugumi, a prima mais nova, dona de uma saúde frágil desde o nascimento, cresceu cercada de paparicos de toda a família, o que talvez tenha contribuído para que ela virasse uma jovem mandona e de gênio forte. Cruel nas palavras e nas travessuras, orgulhosa e impulsiva, Tsugumi é aquela criança pirralha que, sabendo do incômodo que causa, aumenta a carga da pentelhice para irritar ainda mais as pessoas. Yoko, por sua vez,  é emotiva e gentil, totalmente o oposto da irmã caçula.

Durante o período de férias da universidade na capital japonesa, Maria é convidada por Tsugumi para passar alguns dias na pousada Yamamoto. Entusiasmada para voltar ao local de infância, sentir o cheiro do mar e relembrar os velhos tempos na pousada, Maria vai a Izu presenciar novas confusões de prima encrenqueira. Os dias de febre e fraqueza não impedem Tsugumi de causar preocupações a todos, sumindo do nada ou executando seus planos sem se preocupar com as consequências.


Minhas impressões

Já havia lido Kitchen algum tempo atrás, e por isso fiquei entusiasmada quando a Estação Liberdade havia colocado Tsugumi como provável lançamento da editora em um catálogo do ano de 2014. Passaram-se meses desde que vi o arquivo com os futuros títulos, e desde então nada de anúncio oficial com data de lançamento, o que me deixou um pouco preocupada. Como havia ocorrido com outros livros de autores japoneses, os títulos previstos sairiam sim, era apenas uma questão de ter paciência e baixar a ansiedade. Felizmente a editora cumpriu o que estava previsto e resgatou Banana Yoshimoto do limbo dos escritores que esperam por uma segunda chance de publicação.

Tsugumi, a personagem-título, é irritante mesmo, principalmente com Maria. Esta teve de aturar vários momentos de infantilidade de sua frágil prima, mas compreendeu que seria um esforço inútil tentar mudar o comportamento da garota. Em um episódio engraçado envolvendo a figura do avô que acabara de falecer, Maria cai em mais uma traquinagem arquitetada pela prima caçula, só que no final resolve ceder à brincadeira idiota e de mau gosto de Tsugumi. Daí em diante, as duas garotas tornam-se confidentes uma da outra, sendo que Tsugumi possui seu jeito peculiar de mostrar apreço pelos outros. É uma orgulhosa e uma peste, afinal.

Para Maria, Tsugumi vive em universo imaginário particular. Na hora de agir, a menina não pensa nas consequências que seus atos infantis podem trazer. Enquanto a cabeça se presta a tramar vinganças e travessuras, a boca espera o momento adequado para soltar pérolas e dizeres rudes, e o corpo planeja de onde tirará as forças necessárias para colocar os planos da garota em ação. Para a prima caçula de Maria, não interessa muito se a soma desses fatores resultará em mais uma semana doente, o importante é ter êxito nos objetivos. 


Gosto do modo acessível como Banana Yoshimoto escreve seus enredos contemporâneos, contando histórias simples e cativantes sem se alongar em passagens desnecessárias. Por outro lado, acho uma pena que os livros dela sejam muito breves, daqueles que, quando a gente se apega fácil, eles já estão chegando ao fim. Quando eu começava a tomar um certo apreço por Tsugumi, a autora, através de Maria Shirakawa, já vinha preparando o terreno para encerrar a história. Ah, droga.

Tsugumi foi um bom lançamento da Estação Liberdade, que está retomando a publicação de autores japoneses há um bom tempo esquecidos no catálogo.  A editora resgatou, além de Banana Yoshimoto, Osamu Dazai e Yasushi Inoue, autores cujos títulos haviam sido publicados no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Espero muito que tragam todos os demais títulos de Yoshimoto, como N.P., Amrita, Lizard, entre outros, não porque sejam da mesma autora, mas porque sinto falta de publicações de escritoras japonesas. Já temos livros das autoras Hiromi Kawakami e Natsuo Kirino, mas são ainda poucos títulos em relação a autores masculinos, como Junichiro Tanizaki, Yasunari Kawabata, Yukio Mishima e Haruki Murakami.


Astral do livro:

Avaliação:




domingo, 6 de dezembro de 2015

Os 50 livros indicados por Hayao Miyazaki


Pegando o embalo do post sobre When Marnie was there, que foi adaptado pelo estúdio Ghibli e virou uma animação esplendorosa, vou colocar aqui a lista dos 50 livros indicados pelo diretor Hayao Miyazaki, um dos fundadores desse estúdio renomado. A lista eu peguei do Ghibli Wiki (http://www.nausicaa.net/wiki/).

A maioria dos livros não possui tradução para o nosso português. Os que foram traduzidos por editoras brasileiras estarão indicados na terceira coluna da lista.


Título Autor(a) Versão em português e editora
The Borrowers Mary Norton Os pequeninos Borrowers - Editora Martins Fontes
The Little Prince Antoine de Saint-Exupéry O pequeno príncipe – várias editoras
The Six Bullerby Children (Children of Noisy
Village)
Astrid Lindgren -
When Marnie was there Joan G. Robinson -
Swallows and Amazons Arthur Ransome -
The Flying Classroom Erich Kästner -
There Were Five of Us Karel Poláček -
What the Neighbours Did, and Other Stories Ann Philippa Pearce -
Hans Brinker, or the Silver Skates Mary Mapes Dodge Os patins de prata – editora Abril, editora
Paulinas, Ediouro
The Secret Garden Frances Hodgson Burnett O Jardim Secreto – Companhia das Letras, Scipione, Editora 34, Ediouro
Eagle of the Ninth Rosemary Sutcliff A águia da Nona – Galera Record
The Treasure of the Nibelungs Gustav Schalk -
The Three Musketeers Alexandre Dumas pai Os três mosqueteiros – Zahar, Martin Claret
A Wizard of Earthsea Ursula K. Le Guin O mago de Terramar, As tumbas de Atuan - Brasiliense
Les Princes du Vent Michel-Aime Baudouy -
The Flambards Series K. M. Peyton -
Souvenirs Entomologiques Jean Henri Fabre -
The Long Winter Laura Ingalls Wilder O Longo Inverno – Record
A Norwegian Farm Marie Hamsun -
Heidi Johanna Spyri Heidi – Abril, Ediouro
The Adventures of Tom Sawyer Mark Twain As Aventuras de Tom Sawyer – várias editoras
Little Lord Fauntleroy Frances Hodgson Burnett O pequeno lorde – Editora 34, editora Abril, Melhoramentos, Editora Technoprint
Tistou Les Pouces Verts Maurice Druon O menino do dedo verde – José Olympio
Editora
The Adventures of Sherlock Holmes Arthur Conan Doyle As Aventuras de Sherlock Holmes –
Melhoramentos, Martin Claret, Zahar
From the Mixed-Up Files of Mrs. Basil E. Frankweiler E. I. Konigsburg -
The Otterbury Incident Cecil Day-Lewis -
Alice's Adventures in Wonderland Lewis Carrol Alice no País das Maravilhas – Zahar, L&PM
The Little Bookroom Eleanor Farjeon -
The Forest is Alive or Twelve Months Samuil Yakovlevich Marshak -
The Restaurant of Many Orders Kenji Miyazawa -
Winnie The Pooh A. A. Milne Winnie Puff – Editora Martins Fontes
Nihon Ryoiki Kyokai -
Strange Stores from a Chinese Studio Pu Songling -
Nine Fairy Tales: And One More Thrown in For Good Measur Karel Capek -
The Man Who Has Planted Welsh Onions Kim So-un -
Robinson Crusoe Daniel Defoe Robinson Crusoé – L&PM, Martin Claret, BestBolso, Record, Companhia das Letras
The Hobbit J. R. R. Tolkien O Hobbit – Editora Martins Fontes
Journey to the West Wu Cheng'en -
Twenty Thousand Leagues Under the Sea Jules Verne 20 mil léguas submarinas – Zahar, Martin
Claret
Il Romanzo di Cipollino Gianni Rodari -
Treasure Island Robert Louis Stevenson A ilha do tesouro – Record, Martin Claret, L&PM
The Ship That Flew Hilda Winifred Lewis -
The Wind in The Willows Kenneth Grahame O vento nos salgueiros – Editora Moderna, Editora Salamandra
The Little Humpbacked Horse Pyotr Pavlovich Yershov -
The Little White Horse Elizabeth Goudge -
The Rose and The Ring William Makepeace Thackeray O Anel e a Rosa – José Olympio Editora
The Radium Woman Eleanor Doorly -
City Neighbor, The Story of Jane Addams Clara Ingram Judson -
Ivan the Fool Liev Tolstoi -
The Voyages of Doctor Dolittle Hugh Lofting -

Resenha: When Marnie was there


 
When Marnie was There
Joan G. Robinson
Harper Collins UK
286 páginas

A resenha deste post não é sobre um livro de autor japonês, chinês ou coreano, mas sobre a obra de uma escritora inglesa. É estranho, eu sei, já que o propósito do blog é focar especificamente na literatura do Extremo Oriente, na tríade China-Coreia-Japão, o que torna este blog um pouco mais restrito. Mas acho que posso me dar ao luxo de realizar algumas exceções, principalmente se o livro  resenhado virou filme pelas mãos de um famoso estúdio de animação japonesa.

(E eu gostaria de informar que vou colocar não apenas resenhas de livros, mas qualquer outra informação que tenha relação com autores ou trabalhos orientais)

Para dar início a essa mudança, prefiro começar com um livro que foi recentemente adaptado pelo Estúdio Ghibli, When Marnie was there, de Joan G. Robinson. O filme Omoide no Marnie foi lançado em julho de 2014 no Japão, mas chegou ao Brasil apenas na segunda quinzena de novembro de 2015, exibido em algumas poucas salas pelo país.

Sobre a autora

Joan Gale Thomas nasceu em 1910, em Buckinghamshire, Inglaterra. Ilustradora, Joan trabalhava fazendo desenhos para publicações de outros autores, até que em 1939 decidiu lançar seu próprio livro, A Stands for Angel. Sob o sobrenome Thomas, a escritora lançou vários livros de temática religiosa voltados para crianças: If Jesus Came to my House, My book about Christmas, If I'd Born in Bethlehem, Christmas Angel, Where's God?, Our Father, entre outros.

Em 1941, após casar-se com o também autor e ilustrador Richard Robinson, Joan mudou a temática de seus livros, deixando de lado as histórias religiosas para focar em enredos temporais. Além de When Marnie was there, a autora é conhecida pelas histórias do ursinho Teddy Robinson e da menina Mary-Mary, clássicos da literatura infantil britânica. Em When Marnie was There, a ilustração dos capítulos ficou a cargo da artista Peggy Fortnum, bastante conhecida pelos desenhos do ursinho Paddington, de Michael Bond.

Joan G. Robinson faleceu em 1988, na Inglaterra, aos 78 anos.


O livro
Para a menina Anna, as crianças são separadas em dois grupos: as que ficam do lado de fora (outside) e as que ficam do lado de dentro (inside) de um círculo mágico invisível. As que ficam do lado de dentro são aquelas que possuem mais desenvoltura na linguagem de fazer amigos, as que são convidadas a participar de passeios e brincadeiras. As pertencentes ao grupo do lado de fora são as crianças que não possuem traquejo social, que estão sempre excluídas de atividades em grupo ou não despertam a atenção dos outros, como se fossem seres invisíveis e insossos.

Pertencente ao grupo dos que ficam do lado de fora, Anna passa a maior parte do seu tempo pensando no nada. Sua inércia em termos de amizades preocupa a mãe adotiva, Sra Preston, que reclama com a  menina, dizendo que ela nem ao menos tenta ser amigável com as outras crianças. Soma-se a esse desastre no campo dos relacionamentos o fato da menina ter asma, doença que a afasta do ambiente escolar por algumas semanas.

Disposta a quebrar o ar de indiferença de sua filha adotiva, a Sra. Preston então combina com seus velhos amigos, Susan e Sam Pegg, para que a menina fique longe de Londres e vá para a região ensolarada de Norfolk, mais precisamente na vila de Little Overton. De clima agradável e perto do mar, o chalé dos Pegg hospedará Anna por algumas semanas, para que ela se recupere da asma e tente fazer novos amigos. Inicialmente, Anna não parece muito animada com a ideia, e tudo o que ela não quer em Norfolk é ser obrigada a encontrar outras crianças e fazer amizades superficiais, que ressaltem sua característica de pertencer ao grupo do lado de fora.

Em andanças pela região próxima da praia, Anna vê uma casa localizada em um pântano. Essa residência velha e abandonada parece ter sido um lar abastado no passado, e sua aparência é bastante familiar, como se a menina a tivesse visto anteriormente. Após alguns dias investigando o entorno, Anna finalmente conhece a misteriosa moradora da casa, uma menina chamada Marnie, que não é quem aparenta ser. Em pouco tempo, as duas viram grandes amigas e compartilham situações familiares que, se não são semelhantes, são dolorosas.

Mas chega o dia em que Marnie desaparece e deixa a amiga para trás, uma separação que ocorre de maneira brusca e sem motivos claros. Ao investigar o que se passou na velha casa do pântano e conhecer os novos moradores do local, Anna descobre as razões do desaparecimento de Marnie e conhece mais sobre seu próprio passado.

Minhas impressões
When Marnie was there é um livro aconchegante, que começa num ritmo lento com as descobertas de Anna na vila de Little Overton e sua paisagem praiana. Com a aparição de Marnie, uma garota travessa, a rotina de Anna em Norfolk ganha dinamismo e fôlego, o que torna o livro mais delicioso para ser apreciado. Os passeios de barco e em torno da casa do pântano que as duas meninas fazem são momentos agradáveis em que o mundo chato e regrado dos adultos não realiza interferências.

Pessoalmente, eu gostei muito deste livro porque me identifico bastante em relação a Anna e suas dificuldades no quesito amizades. Como ela diz em certa altura do livro, ela prefere conhecer sobre as outras crianças do que conhecê-las pessoalmente. Se as outras crianças desejassem conhecer Anna, tudo perderia a graça e seu plano de ficar sozinha seria destruído: os outros meninos e meninas fariam com que ela passasse a gostar de tudo o que eles gostassem, fariam com que ela fizesse tudo o que eles fizessem, fariam com que ela tivesse tudo o que eles tivessem. No momento em que descobrirem que Anna não corresponde àquilo que eles esperam dela, seu interesse pela menina será deixado de lado. As demais crianças então ficarão do lado de dentro, vendo de maneira curiosa a Anna deixada do lado de fora.

Uma coisa que fiz em relação a este livro foi imaginar os personagens como se eles tivessem as mesmas características visuais do filme do estúdio Ghibli. Como assisti ao filme antes de ler o livro, a imagem de Anna como uma tomboy e Marnie como uma garota de longos cabelos loiros ficou fixada na minha mente, e não consegui imaginá-las de outra forma. Mesmo as ilustrações de Peggy Fortnum não foram capazes de realizar uma mudança em minha cabeça. Há alguns personagens do livro que não estão presentes no filme, e é aí que tento imaginar como eles seriam se fossem personagens do filme.

É um livro de certa forma triste, porque logo no início sabemos que Anna foi adotada ainda pequena pelos Preston, chamados de tio e tia pela protagonista. Marnie também tem uma história sofrida, que num certo ponto do livro se cruzará com a de sua amiga Anna. Em algumas ocasiões, pensei que a palavra-chave para este livro fosse abandono, pois foi essa a impressão que tive lendo sobre o passado das duas meninas.

Boa parte do que se passa no livro foi mostrado no filme, então creio que a adaptação do estúdio Ghibli foi de certa forma fiel ao que Joan G. Robinson escreveu. Há alguns personagens que não aparecem na versão animada, mas isso não faz muita diferença, pois a história flui normalmente. Todos os elementos que caracterizam locais na Inglaterra, bem como os personagens do livro, foram adaptados ao contexto japonês: no filme, por exemplo, a região de Norfolk virou uma pequena comunidade ao norte da ilha de Hokkaido, Londres virou Sapporo, e Anna Preston virou Anna Sasaki.


Infelizmente, nenhuma editora brasileira traduziu When Marnie was there, o que é uma pena, pois é um livro excelente para crianças e adultos, dá para ser lido rapidinho. Eu consegui comprar um exemplar em inglês da Harper Collins através do site de compras internacionais Book Depository, que vende exemplares em vários idiomas por preços competitivos e oferece frete gratuito para vários países, incluindo o Brasil. Se você tiver um cartão de crédito internacional e não se importar muito com a variação do preço do dólar, é uma boa opção frente aos preços praticados pelas livrarias brasileiras que importam e ainda colocam suas margens de lucro lá em cima. Só tenha paciência, pois meu livro comprei no final de julho e recebi apenas no final de novembro. No final, valeu muito a pena, recebi o livro intacto e sem avarias, pagando menos de 9 dólares.


(Uma dica para quem tem ansiedade: compre o livro e esqueça que comprou. Como se você tivesse comprado algo no Aliexpress e a encomenda ficasse retida naquele buraco negro dos Correios localizado em Curitiba.)

Para finalizar, eu recomendo, com todas as forças, que vocês possam ler o livro e assistir ao filme, não importa muito a ordem em que vocês farão essas coisas. Gostei muito de ambos, coloquei entre os favoritos de 2015 – embora seja esquisito isso, pois não assisto muitos filmes e minha meta de leitura ficou bem abaixo do esperado.

Astral do livro:

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