quinta-feira, 30 de abril de 2015

Resenha - Battle Royale





Battle Royale
Koushun Takami
Editora Globo
664 páginas
Tradução de Jefferson José Teixeira

Battle Royale, de Koushun Takami, causou um enorme alvoroço na época de seu lançamento, devido ao teor violento e polêmico do enredo. Dois anos antes de ser levado às livraria japonesas, o texto original de Takami havia sido enviado ao concurso literário Japan Grand Prix Horror Novel, que premia os melhores textos na categoria terror. Infelizmente os juízes consideraram o conteúdo do romance de estreia de Takami extremamente violento, até mesmo em relação ao material a que estavam acostumados a avaliar para o concurso, e decidiram desclassificar o texto de Battle Royale da disputa pelo grande prêmio.

Battle Royale foi lançado pela editora japonesa Ohta Books em 15 de abril de 1999, obtendo a espantosa marca de 1 milhão de exemplares vendidos no arquipélago. Com o sucesso, vieram os debates acerca da violência extrema envolvendo estudantes do ensino fundamental, característica que marca o enredo do único livro lançado por Takami. Após o burburinho, vieram também as adaptações, como o filme dirigido por Kinji Fukasaku lançado em 2000, e o mangá, com roteiro do próprio Takami e desenho de Masayuki Taguchi.

O enredo
Tendo como cenário a fictícia e totalitária República da Grande Ásia Oriental – que na verdade é o próprio Japão -, os estudantes do nono ano do ensino fundamental da escola Shiroiwa, da província de Kagawa, são levados a uma excursão. Nessa turma de 42 alunos, há gente de todos os tipos: marginais, esportistas, mauricinhos e patricinhas, pessoas de boa e má índole. Todos eles viajam juntos para o que imaginam ser uma viagem escolar normal.

No início do livro, somos apresentados aos personagens que irão sustentar grande parte do enredo, seja do lado dos mocinhos ou dos vilões. Shuya Nanahara, que viveu em um orfanato e adora tocar guitarra; Noriko Nakagawa, a garota gentil e inocente; Shogo Kawada, o aluno transferido e com cara de marginal; Kazuo Kiriyama, o riquinho e esnobe que mantém uma gangue de malfeitores; Shinji Mimura, o garoto popular e extremamente hábil nos esportes; e Mitsuko Souma, a delinquente e traiçoeira líder de uma gangue de garotas.

Dentro do ônibus de viagem, todos os alunos papeiam, sem desconfiar que nas próximas horas estarão envolvidos em um jogo sangrento promovido pelo governo da República da Grande Ásia Oriental. Passado algum tempo, o ônibus em que os jovens estão é invadido por um gás, que aos poucos provoca o adormecimento de cada um deles. Quando todos acordam, estão em uma escola situada em um lugar distante, numa ilha chamada Okishima, esvaziada e preparada especialmente para o grande evento no qual restará apenas um aluno sobrevivente.

Dentro da sala de aula da escola abandonada, os alunos da Shiroiwa descobrem, da pior maneira possível, que foram escolhidos para o “Programa”, um experimento militar anual que seleciona aleatoriamente apenas as turmas do nono ano de qualquer local da República. No Programa, os alunos da classe escolhida são obrigados a participar de um jogo macabro, no qual precisam matar uns aos outros, até que reste apenas um vencedor, que receberá como prêmio uma foto autografada do Grande Líder e uma pensão vitalícia. Kinpatsu Sakamochi, o “professor” que adentra a sala e comanda o Programa do ano de 1997, toca o terror logo de imediato, mostrando aos estudantes da Shiroiwa que eles não têm outra opção senão participar do jogo.

A matança promovida pelo Programa não é isenta de regras, tudo foi extremamente planejado para evitar brechas fugas dos alunos. Cada um dos jovens receberá um kit contendo os itens essenciais para jogar: uma arma, água, pão, lápis e um mapa. Só o problema é que a arma contida em cada kit não é a mesma para todos, o que torna a luta muito desigual e ainda mais cruel. O aluno que se vire para achar um jeito de eliminar os outros participantes. Além do kit, os estudantes possuem uma coleira eletrônica presa ao corpo, que registra seus passos, batimentos cardíacos e conversas. Ela sozinha possui a capacidade de matar quem tentar burlar as regras do jogo.

São dados apenas dois dias para que o jogo corra por toda a ilha. Se os alunos não começarem a matar seus colegas dentro de 24 horas, o Programa então detonará todas as coleiras, matando todos os participantes sem que haja um vencedor.

Até que enfim!
Após quase 15 anos de sua publicação no Japão, finalmente alguma editora brasileira se interessou pelo título, que já era conhecido de alguns fãs brasileiros devido às adaptações que desembarcaram por aqui – a editora Conrad publicou entre 2006 e 2012 a adaptação em mangá, e em 2007 o longa-metragem foi lançado em dvd pela Visual Filmes. Em 2014, a Globo Livros trouxe o único livro de Koushun Takami em uma versão caprichada, cuja capa chama atenção pelo visual de filme de ação, com uma aplicação em verniz que reproduz os nomes dos alunos da escola Shiroiwa e o mapa com seus quadrantes.

O livro possui um texto fluido e fácil de ler, o que torna a leitura dele mais rápida. As 664 páginas cobrem bem os dois dias de jogo, mostrando não apenas o massacre ao qual os estudantes são obrigados a aderir, mas o passado trágico de vários desses jovens. O grupinho de Shuya Nanahara, o protagonista do enredo, tenta a todo custo buscar meios de escapar da ilha, e para isso evita entrar em combate contra seus próprios colegas de escola. Mas infelizmente, neste jogo de matar ou morrer, não é possível confiar cegamente em ninguém e nem prometer que ninguém irá se ferir. As aparências enganam quase o tempo todo, e são responsáveis por desencadear muitas mortes de uma só vez.

O massacre que se segue ao longo do livro é descrito de maneira detalhada, o que talvez tenha influenciado o júri do Japan Grand Prix Horror Novel a vetar a passagem de Battle Royale às finais do concurso. Nem todos os que estão no jogo querem matar, mas os que realmente jogam matam sem dó nem piedade, muitas vezes com o uso de encenações. Ao final de cada capítulo, há uma contagem de alunos sobreviventes.

Algumas passagens do livro são entediantes, mas não chegam a atrapalhar o andamento da leitura. Muitos personagens secundários são mortos rapidamente, sem deixar rastros de saudade. Outros, que ainda guardam a sanidade e querem o bem de seus colegas, infelizmente deixaram uma sensação amarga quando foram assassinados. Na parte final, o livro atinge um ritmo mais eletrizante quando os poucos sobreviventes entram em combate, e aí uma pontinha de tristeza surge porque o livro está acabando.

Apesar do número de páginas,  Battle Royale pode ser devorado com muita rapidez, porque a vontade de saber quem irá vencer o Programa faz com que o leitor não queira desgrudar tão fácil do livro. 

 Astral do livro


Avaliação 




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