Resenha: Moribito - o guardião do espírito
Moribito: o guardião do espírito
Nahoko Uehashi
Editora Martins Fontes
226 páginas
Tradução de Rodrigo Neves
Este livro encontrei por acaso, fuçando no site da Martins Fontes logo após saber da existência dos livros da escritora Kazumi Yumoto, autora de "Amigos" e "O Outono do Álamo" (que futuramente terão suas resenhas publicadas aqui no blog). De início não me senti impelida a adquirir Moribito, já que a sinopse não me pareceu muito atraente, então deixei pra lá. A capa era um pouco diferente, com uma ilustração parecendo mangá, mas mesmo assim achei melhor dar prioridade a outros títulos, principalmente os de Haruki Murakami :P
Em meados de maio deste ano, fui dar uma garimpada numa livraria da minha cidade, até que encontrei Battel Royale, de Koushun Takami. Como o dinheiro na carteira ainda me permitia comprar mais outro livro, fui até a estante de livros infanto-juvenis e fucei. De repente vi Moribito, o que achei estranho, já que é raro encontrar livros menos "famosos" por aqui. Na ânsia de ler algo diferente, dei uma chance e comprei o título, que ficou um tempo encostado aqui na minha estante. E aqui está ele, entre os livros resenhados pelo Oriente Literário!
Moribito: o guardião do espírito faz parte de uma série de 12 livros escritos por Nahoko Uehashi, etnóloga e professora da Kawamura Gakuen University. Esta série vendeu mais de um milhão de exemplares no Japão, onde Uehashi recebeu vários prêmios literários, entre eles o de escritora revelação/ categoria literatura infanto-juvenil do Noma Bungei Sho, tradicional premiação da literatura japonesa. A autora foi agraciada recentemente com o prêmio Hans Christian Andersen, que contempla os melhores autores da literatura infanto-juvenil mundial.
No Brasil, Moribito foi publicado em 2011 pela editora Martins Fontes que, infelizmente, não deve ter se interessado pelo restante da série. Em inglês, a editora americana Scholastic publicou os dois primeiros volumes pelo selo Arthur A. Levine, dedicado ao segmento infanto-juvenil. Porém, as vendas da série não foram suficientes para que os demais volumes fossem traduzidos e lançados nos EUA, o que torna praticamente inviável aos leitores que não sabem japonês a leitura dos volumes restantes.
Sobre o enredo
Moribito mistura elementos mitológicos e traços de um Japão antigo para contar as aventuras de Balsa, uma guerreira que protege as pessoas para expiar parte de seu passado e que atua como guarda-costas. Nascida em Kanbal, Balsa vaga pelos territórios vizinhos para sobreviver e entrar em combate com outros guerreiros, já que a vontade de lutar tornou-se praticamente um vício, muito mais que um meio de obter o sustento. Munida de uma lança, ela é uma exímia guerreira, que não se importa com os ferimentos graves obtidos em batalha, desde que ela vença.
Neste primeiro volume, Balsa presencia um acidente envolvendo o segundo príncipe de Nova Yogo, Chagum, um menino de 13 anos. Um dos bois que puxa a carruagem em que Chagum está é estranhamente atacado durante a travessia de uma ponte, e a confusão acaba por jogar o menino ao rio. Todos os servos pulam na água na tentativa de salvar o segundo príncipe, mas é Balsa quem consegue retirá-lo com vida. Após o salvamento, a lanceira é convidada pela Segunda Rainha de Nova Yogo a desfrutar da comida e da estadia no palácio, como forma de retribuição ao salvamento do menino.
Mesmo recusando os luxos oferecidos como cortesia, Balsa é convencida a ficar pelo menos uma noite no palácio. Posteriormente, a Segunda Rainha em pessoa vai até os aposentos em que a lanceira se encontra, para agradecê-la e fazer um pedido que mudará o destino de Balsa e Chagum. Desesperada, a Segunda Rainha conta a Balsa que seu filho Chagum precisa ser protegido e retirado das dependências do palácio, pois a vida dele corre perigo. Uma estranha criatura está dentro do corpo do menino, e o Mikado - governante de Nova Yogo , sob os conselhos dos sábios chamados de Astromantes, pretende matar o próprio filho para impedir que uma catástrofe aconteça ao seu povo.
Aceitando o pedido da Segunda Rainha, Balsa leva Chagum embora e arma uma cena para isso. O local em que ela e Chagum estavam pega fogo de maneira proposital, para que todos pensem que o menino morreu. Cientes da armação, os Astromantes, o Mikado e seus oito guerreiros partem em busca do segundo príncipe para acabar de vez com a possível maldição que poderá devastar Nova Yogo.
A partir da aparição de Tanda, amigo de Balsa, e dos astromantes nos capítulos seguintes, o leitor saberá qual maldição paira sobre Chagum: ele é o hospedeiro de um ovo do Nyunga Ro Im, uma criatura que vive no mundo invisível chamado de Nayugu. O Nyunga Ro Im, segundo uma lenda, é um ser que tem capacidade de controlar as condições climáticas do Nayugu e do mundo visível, chamado de Sagu. A cada cem anos, o Nyunga Ro Im põe seus ovos nos dois mundos, sendo que no Sagu um dos ovos é sempre depositado em uma criança, que fica então responsável por hospedá-lo até sua abertura no solstício de verão. Caso o ovo não abra no período certo, ou seja comido pela criatura chamada de Rarunga, uma terrível estiagem se prolongará em Nova Yogo pelos próximos cem anos.
O trabalho de Balsa e seus amigos é descobrir como proteger Chagum e o ovo das garras de Rarunga, o demônio da lama, bem como evitar que o Mikado e seus capangas matem o menino. Para isso, Tanda e sua mestra, a xamã Torogai, serão imprescindíveis.
O livro de Nahoko Uehashi tem um ritmo rápido, um enredo que lembra muito os animes - não à toa que Moribito ganhou uma série animada, chamada de Seirei no Moribito, produzida pelo estúdio Production I.G. São ao todo 24 episódios que, pelo nome de cada um deles, eu presumo que cubram apenas este primeiro volume. (Não assisti a série animada, mas pretendo ver futuramente, quando tiver tempo de sobra)
O livro é curto, com pouco mais de 200 páginas, nada difícil de encarar. O porém é que a autora introduz muitos termos próprios dos povos do enredo, sendo que vários termos relacionados estão relacionados com o idioma japonês. Para que o leitor não se perca, logo no início do livro há páginas explicando as nomenclaturas citadas no enredo. Sugiro que o leitor veja e tente memorizar os nomes, porque sem isso fica um tanto complicado saber quem é quem.
Em relação ao enredo, senti que faltou algo mais no livro, como se história pudesse ser melhor contada, melhor "amarrada". A Segunda Rainha, que aparece no começo do livro, some do nada, o leitor não é informado o que ocorreu com ela depois do desaparecimento de Chagum. Os astromantes, que detêm de fato o poder, poderiam acrescentar um tempero a mais no enredo, como atrapalhar ainda mais a trajetória de Balsa e Chagum, mas não é isso o que ocorre. O Mikado quase não aparece no livro, o Primeiro Príncipe é citado, mas não se sabe muito sobre ele - só é dito que a relação entre os dois herdeiros ao trono é ruim, já que o filho mais velho do Mikado despreza Chagum.
O desfecho do livro me decepcionou, pois não esperava que a maldição que atormentava Chagum fosse derrotada de uma maneira tão fácil e sem graça. A passagem em que Chagum se livra do ovo de Nyunga Ro Im e, consequentemente, de Rarunga, foi rápida e sem nenhuma emoção, o que me pensar em como essa série vendeu bastante no Japão e resultou em mais 11 livros. Não sei o enredo dos volumes seguintes, mas espero que a autora tenha desenvolvido melhor as aventuras de Balsa e cia.
Se por algum acaso a Martins Fontes trouxer outros títulos de Nahoko Uehashi, talvez eu dê uma olhada. Mas após conferir este primeiro volume de Moribito, não me senti nem um pouco impelida a buscar o restante dos volumes.
Astral do livro:
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