Conheci essa webcomic/mangá/manhua chinês através do Tumblr, visitando
randomicamente alguns blogs dedicados aos mangás shoujo. Lembro que vi
algumas imagens muito bonitas, de um casal em várias situações
cotidianas. O traço, que achei que fosse de algum mangá, logo me
interessou, e então fui saber do que se tratava após fuçar outros blogs.
Sun Jing e Qiu Tong
Segundo
o que li no Tumblr, a/o artista responsável pela webcomic, Tan Jiu,
postou suas ilustrações em redes sociais, como o Pixiv – um site japonês
para ilustradores mostrarem seus portfólios. As ilustrações retratando
um casal logo ficaram famosas, e os apreciadores ficaram curiosos para
saber se Tan Jiu tinha pretensão de transformar os personagens em
protagonistas de alguma história.
Para sorte dos fãs de Tan Jiu, o
romance por trás das famosas ilustrações virou a webcomic Tamen de
Gushi, postada periodicamente na página do/a artista na rede social
chinesa Weibo. São pequenos capítulos, com uma estrutura que se
assemelha ao das tirinhas cômicas japonesas, conhecidas como yonkoma.
Fiquei surpresa, pois não imaginava que a webcomic fosse Shoujo Ai/Yuri
(não sei qual a classificação em chinês, hahaha), já que eu via um casal
hétero quando batia o olho nas ilustrações. Foi bem tosco quando
descobri isso, o que não tirou meu desejo de acompanhar o romance entre
as protagonistas.
Sobre a história
Sun Jing e Qiu Tong são
duas estudantes chinesas, de escolas diferentes. Ambas pegam o mesmo
ônibus, no mesmo ponto. Sun Jing, reparando na beleza de Qiu Tong,
começa a despertar algum interesse sobre esta última. Decidida a fazer
amizade com Qiu Tong, Sun Jing tenta abordá-la, mas a timidez a impede
de falar e o plano vai por água abaixo.
Através de um colega de
escola, que conhece pessoas ligadas a Qiu Tong, Sun Jing acaba
descobrindo o nome e o local onde estuda seu alvo amoroso. Com coragem,
ela vai atrás de Qiu Tong e se apresenta, mas a outra, com receio do que
ocorreu anteriormente (e pensando que Sun Jing é uma doida), sai
correndo. Felizmente, o mal-entendido é desfeito e as duas se tornam
amigas. Só que Sun Jing tenta, em várias ocasiões, descobrir se Qin
Tong sente algo mais forte por ela.
Minhas impressões
Depois
da surpresa em saber que Tamen de Gushi era, na verdade, um romance
entre duas garotas, fiquei mais surpresa ainda quando vi que havia uma
espécie de subplot yaoi. Enquanto as protagonistas puxam a história para
o Shoujo Ai/ Yuri, os personagens Qin Xiong e Xuezhang enveredam pelo
Shounen Ai/Yaoi (romance entre garotos). Não tem nada de apelativo ou
pornográfico no enredo, como talvez alguns possam pensar; os romances
ficam naquele terreno do amor idealizado, puro, sem malícia. Bem, pelo
menos já se passaram 85 capítulos e nada de beijos também…
Tamen
de Gushi é muito fofo: Sun Jing tenta falar o que sente para Qiu Tong,
mas essa é meio lerda para saber o que a outra quer dizer. Mop Head, o
amigo de Sun Jing, é quem serve de muro das lamentações quando a garota
fica desanimada com o andar do relacionamento com Qiu Tong. É dele,
aliás, algumas das passagens mais cômicas da história, principalmente
quando cai nas brincadeiras idiotas de sua amiga.
A parte ruim
de Tamen de Gushi é que os capítulos são MUITO curtos, em que cerca de
seis cliques no mouse significam que o capítulo já terminou. E que você
tem que esperar cerca de duas semanas até que Tan Jiu lance umas seis imagens
para compor mais um capítulo. Triste, mas é o ritmo de trabalho
dela/dele. Tamen de Gushi é um romance leve e bem-humorado, com
um traço muito bonito de Tan Jiu. Se você não se importa de esperar para
ler um romance em conta-gotas, acredito que vale a pena experimentá-lo.
Torço muito pelo romance das duas meninas, mas Tan Jiu parece que quer
matar os leitores de ansiedade quando lança uns poucos quadrinhos da
história a cada mês.
Este blog foi criado com o intuito de destacar a literatura oriunda da China, da Coreia e do Japão. Enquanto a maioria dos blogs literários abrange títulos das mais variadas nacionalidades, este aqui preferiu focar em um nicho, de maneira a ajudar a divulgar a literatura dos países citados.
Caso tenha alguma sugestão de livro que ainda não foi colocado neste blog, entre em contato pelo formulário, localizado na parte lateral do blog.
A Estação Liberdade disponibiliza todo ano um catálogo em pdf com os títulos já lançados e os que ainda estão em processo de publicação. De acordo com o catálogo mais recente, voltado para o ano de 2016, há seis títulos de domínio oriental sendo trabalhados pela editora.
Os títulos no prelo são: O Museu do Silêncio e A Fórmula do Professor, ambos de Yoko Ogawa; Botchan, de Natsume Soseki, e Guerra de Gueixas, de Nagai Kafu (domínio japonês); No País do Cervo Branco, de Chen Zhongshi, e O Garoto do Riquixá, de She Lao (domínio chinês). Infelizmente, não temos nenhuma novidade no domínio coreano.
Tsugumi
Banana Yoshimoto
Estação Liberdade
Tradução de Lica Hashimoto
184 páginas
Após anos sendo ignorada pelas editoras brasileiras, a autora japonesa Banana Yoshimoto teve, finalmente, mais um título lançado no país. Além de Kitchen, publicado em 1988 pela Nova Fronteira, os leitores agora podem apreciar Tsugumi, lançado em outubro com tradução direta do japonês pela Estação Liberdade. Cabe ressaltar aqui que Kitchen atualmente só pode ser encontrado em bibliotecas ou sebos – e eu, se fosse você, iria logo no site da Estante Virtual ou do Livronauta para saber onde adquirir um exemplar, pois é um título que vale a pena ler e ter na estante.
A narradora de Tsugumi é Maria Shirakawa, uma estudante universitária de Tóquio que possui boas lembranças do interior do Japão, mais precisamente da península de Izu, onde morava na Pousada Yamamoto, pertencente aos seus tios. Nos anos em que ficou na pousada, morando com sua mãe até que seu pai resolvesse questões referentes a um relacionamento anterior, Maria convivia com suas primas Yoko e Tsugumi, de temperamentos bem diferentes. Tsugumi, a prima mais nova, dona de uma saúde frágil desde o nascimento, cresceu cercada de paparicos de toda a família, o que talvez tenha contribuído para que ela virasse uma jovem mandona e de gênio forte. Cruel nas palavras e nas travessuras, orgulhosa e impulsiva, Tsugumi é aquela criança pirralha que, sabendo do incômodo que causa, aumenta a carga da pentelhice para irritar ainda mais as pessoas. Yoko, por sua vez, é emotiva e gentil, totalmente o oposto da irmã caçula.
Durante o período de férias da universidade na capital japonesa, Maria é convidada por Tsugumi para passar alguns dias na pousada Yamamoto. Entusiasmada para voltar ao local de infância, sentir o cheiro do mar e relembrar os velhos tempos na pousada, Maria vai a Izu presenciar novas confusões de prima encrenqueira. Os dias de febre e fraqueza não impedem Tsugumi de causar preocupações a todos, sumindo do nada ou executando seus planos sem se preocupar com as consequências.
Minhas impressões
Já havia lido Kitchen algum tempo atrás, e por isso fiquei entusiasmada quando a Estação Liberdade havia colocado Tsugumi como provável lançamento da editora em um catálogo do ano de 2014. Passaram-se meses desde que vi o arquivo com os futuros títulos, e desde então nada de anúncio oficial com data de lançamento, o que me deixou um pouco preocupada. Como havia ocorrido com outros livros de autores japoneses, os títulos previstos sairiam sim, era apenas uma questão de ter paciência e baixar a ansiedade. Felizmente a editora cumpriu o que estava previsto e resgatou Banana Yoshimoto do limbo dos escritores que esperam por uma segunda chance de publicação.
Tsugumi, a personagem-título, é irritante mesmo, principalmente com Maria. Esta teve de aturar vários momentos de infantilidade de sua frágil prima, mas compreendeu que seria um esforço inútil tentar mudar o comportamento da garota. Em um episódio engraçado envolvendo a figura do avô que acabara de falecer, Maria cai em mais uma traquinagem arquitetada pela prima caçula, só que no final resolve ceder à brincadeira idiota e de mau gosto de Tsugumi. Daí em diante, as duas garotas tornam-se confidentes uma da outra, sendo que Tsugumi possui seu jeito peculiar de mostrar apreço pelos outros. É uma orgulhosa e uma peste, afinal.
Para Maria, Tsugumi vive em universo imaginário particular. Na hora de agir, a menina não pensa nas consequências que seus atos infantis podem trazer. Enquanto a cabeça se presta a tramar vinganças e travessuras, a boca espera o momento adequado para soltar pérolas e dizeres rudes, e o corpo planeja de onde tirará as forças necessárias para colocar os planos da garota em ação. Para a prima caçula de
Maria, não interessa muito se a soma desses fatores resultará em mais uma semana doente, o importante é ter êxito nos objetivos.
Gosto do modo acessível como Banana Yoshimoto escreve seus enredos contemporâneos, contando histórias simples e cativantes sem se alongar em passagens desnecessárias. Por outro lado, acho uma pena que os livros dela sejam muito breves, daqueles que, quando a gente se apega fácil, eles já estão chegando ao fim. Quando eu começava a tomar um certo apreço por Tsugumi, a autora, através de Maria Shirakawa, já vinha preparando o terreno para encerrar a história. Ah, droga.
Tsugumi foi um bom lançamento da Estação Liberdade, que está retomando a publicação de autores japoneses há um bom tempo esquecidos no catálogo. A editora resgatou, além de Banana Yoshimoto, Osamu Dazai e Yasushi Inoue, autores cujos títulos haviam sido publicados no Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Espero muito que tragam todos os demais títulos de Yoshimoto, como N.P., Amrita, Lizard, entre outros, não porque sejam da mesma autora, mas porque sinto falta de publicações de escritoras japonesas. Já temos livros das autoras Hiromi Kawakami e Natsuo Kirino, mas são ainda poucos títulos em relação a autores masculinos, como Junichiro Tanizaki, Yasunari Kawabata, Yukio Mishima e Haruki Murakami.
Pegando o embalo do post sobre When Marnie was there, que foi adaptado pelo estúdio Ghibli e virou uma animação esplendorosa, vou colocar aqui a lista dos 50 livros indicados pelo diretor Hayao Miyazaki, um dos fundadores desse estúdio renomado. A lista eu peguei do Ghibli Wiki (http://www.nausicaa.net/wiki/).
A maioria dos livros não possui tradução para o nosso português. Os que foram traduzidos por editoras brasileiras estarão indicados na terceira coluna da lista.
Título
Autor(a)
Versão em português e editora
The Borrowers
Mary Norton
Os pequeninos Borrowers - Editora Martins
Fontes
The Little Prince
Antoine de Saint-Exupéry
O pequeno príncipe – várias editoras
The Six Bullerby Children (Children of Noisy
Village)
Astrid Lindgren
-
When Marnie was there
Joan G. Robinson
-
Swallows and Amazons
Arthur Ransome
-
The Flying Classroom
Erich Kästner
-
There Were Five of Us
Karel Poláček
-
What the Neighbours Did, and Other Stories
Ann Philippa Pearce
-
Hans Brinker, or the Silver Skates
Mary Mapes Dodge
Os patins de prata – editora Abril, editora
Paulinas, Ediouro
The Secret Garden
Frances Hodgson Burnett
O Jardim Secreto – Companhia das Letras,
Scipione, Editora 34, Ediouro
Eagle of the Ninth
Rosemary Sutcliff
A águia da Nona – Galera Record
The Treasure of the Nibelungs
Gustav Schalk
-
The Three Musketeers
Alexandre Dumas pai
Os três mosqueteiros – Zahar, Martin Claret
A Wizard of Earthsea
Ursula K. Le Guin
O mago de Terramar, As tumbas de Atuan -
Brasiliense
When Marnie was There
Joan G. Robinson
Harper Collins UK
286 páginas
A resenha deste post não é sobre um livro de autor japonês, chinês ou coreano, mas sobre a obra de uma escritora inglesa. É estranho, eu sei, já que o propósito do blog é focar especificamente na literatura do Extremo Oriente, na tríade China-Coreia-Japão, o que torna este blog um pouco mais restrito. Mas acho que posso me dar ao luxo de realizar algumas exceções, principalmente se o livro resenhado virou filme pelas mãos de um famoso estúdio de animação japonesa.
(E eu gostaria de informar que vou colocar não apenas resenhas de livros, mas qualquer outra informação que tenha relação com autores ou trabalhos orientais)
Para dar início a essa mudança, prefiro começar com um livro que foi recentemente adaptado pelo Estúdio Ghibli, When Marnie was there, de Joan G. Robinson. O filme Omoide no Marnie foi lançado em julho de 2014 no Japão, mas chegou ao Brasil apenas na segunda quinzena de novembro de 2015, exibido em algumas poucas salas pelo país. Sobre a autora
Joan Gale Thomas nasceu em 1910, em Buckinghamshire, Inglaterra. Ilustradora, Joan trabalhava fazendo desenhos para publicações de outros autores, até que em 1939 decidiu lançar seu próprio livro, A Stands for Angel. Sob o sobrenome Thomas, a escritora lançou vários livros de temática religiosa voltados para crianças: If Jesus Came to my House, My book about Christmas, If I'd Born in Bethlehem, Christmas Angel, Where's God?, Our Father, entre outros.
Em 1941, após casar-se com o também autor e ilustrador Richard Robinson, Joan mudou a temática de seus livros, deixando de lado as histórias religiosas para focar em enredos temporais. Além de When Marnie was there, a autora é conhecida pelas histórias do ursinho Teddy Robinson e da menina Mary-Mary, clássicos da literatura infantil britânica. Em When Marnie was There, a ilustração dos capítulos ficou a cargo da artista Peggy Fortnum, bastante conhecida pelos desenhos do ursinho Paddington, de Michael Bond.
Joan G. Robinson faleceu em 1988, na Inglaterra, aos 78 anos.
O livro
Para a menina Anna, as crianças são separadas em dois grupos: as que ficam do lado de fora (outside) e as que ficam do lado de dentro (inside) de um círculo mágico invisível. As que ficam do lado de dentro são aquelas que possuem mais desenvoltura na linguagem de fazer amigos, as que são convidadas a participar de passeios e brincadeiras. As pertencentes ao grupo do lado de fora são as crianças que não possuem traquejo social, que estão sempre excluídas de atividades em grupo ou não despertam a atenção dos outros, como se fossem seres invisíveis e insossos.
Pertencente ao grupo dos que ficam do lado de fora, Anna passa a maior parte do seu tempo pensando no nada. Sua inércia em termos de amizades preocupa a mãe adotiva, Sra Preston, que reclama com a menina, dizendo que ela nem ao menos tenta ser amigável com as outras crianças. Soma-se a esse desastre no campo dos relacionamentos o fato da menina ter asma, doença que a afasta do ambiente escolar por algumas semanas.
Disposta a quebrar o ar de indiferença de sua filha adotiva, a Sra. Preston então combina com seus velhos amigos, Susan e Sam Pegg, para que a menina fique longe de Londres e vá para a região ensolarada de Norfolk, mais precisamente na vila de Little Overton. De clima agradável e perto do mar, o chalé dos Pegg hospedará Anna por algumas semanas, para que ela se recupere da asma e tente fazer novos amigos. Inicialmente, Anna não parece muito animada com a ideia, e tudo o que ela não quer em Norfolk é ser obrigada a encontrar outras crianças e fazer amizades superficiais, que ressaltem sua característica de pertencer ao grupo do lado de fora.
Em andanças pela região próxima da praia, Anna vê uma casa localizada em um pântano. Essa residência velha e abandonada parece ter sido um lar abastado no passado, e sua aparência é bastante familiar, como se a menina a tivesse visto anteriormente. Após alguns dias investigando o entorno, Anna finalmente conhece a misteriosa moradora da casa, uma menina chamada Marnie, que não é quem aparenta ser. Em pouco tempo, as duas viram grandes amigas e compartilham situações familiares que, se não são semelhantes, são dolorosas.
Mas chega o dia em que Marnie desaparece e deixa a amiga para trás, uma separação que ocorre de maneira brusca e sem motivos claros. Ao investigar o que se passou na velha casa do pântano e conhecer os novos moradores do local, Anna descobre as razões do desaparecimento de Marnie e conhece mais sobre seu próprio passado.
Minhas impressões
When Marnie was there é um livro aconchegante, que começa num ritmo lento com as descobertas de Anna na vila de Little Overton e sua paisagem praiana. Com a aparição de Marnie, uma garota travessa, a rotina de Anna em Norfolk ganha dinamismo e fôlego, o que torna o livro mais delicioso para ser apreciado. Os passeios de barco e em torno da casa do pântano que as duas meninas fazem são momentos agradáveis em que o mundo chato e regrado dos adultos não realiza interferências.
Pessoalmente, eu gostei muito deste livro porque me identifico bastante em relação a Anna e suas dificuldades no quesito amizades. Como ela diz em certa altura do livro, ela prefere conhecer sobre as outras crianças do que conhecê-las pessoalmente. Se as outras crianças desejassem conhecer Anna, tudo perderia a graça e seu plano de ficar sozinha seria destruído: os outros meninos e meninas fariam com que ela passasse a gostar de tudo o que eles gostassem, fariam com que ela fizesse tudo o que eles fizessem, fariam com que ela tivesse tudo o que eles tivessem. No momento em que descobrirem que Anna não corresponde àquilo que eles esperam dela, seu interesse pela menina será deixado de lado. As demais crianças então ficarão do lado de dentro, vendo de maneira curiosa a Anna deixada do lado de fora.
Uma coisa que fiz em relação a este livro foi imaginar os personagens como se eles tivessem as mesmas características visuais do filme do estúdio Ghibli. Como assisti ao filme antes de ler o livro, a imagem de Anna como uma tomboy e Marnie como uma garota de longos cabelos loiros ficou fixada na minha mente, e não consegui imaginá-las de outra forma. Mesmo as ilustrações de Peggy Fortnum não foram capazes de realizar uma mudança em minha cabeça. Há alguns personagens do livro que não estão presentes no filme, e é aí que tento imaginar como eles seriam se fossem personagens do filme.
É um livro de certa forma triste, porque logo no início sabemos que Anna foi adotada ainda pequena pelos Preston, chamados de tio e tia pela protagonista. Marnie também tem uma história sofrida, que num certo ponto do livro se cruzará com a de sua amiga Anna. Em algumas ocasiões, pensei que a palavra-chave para este livro fosse abandono, pois foi essa a impressão que tive lendo sobre o passado das duas meninas.
Boa parte do que se passa no livro foi mostrado no filme, então creio que a adaptação do estúdio Ghibli foi de certa forma fiel ao que Joan G. Robinson escreveu. Há alguns personagens que não aparecem na versão animada, mas isso não faz muita diferença, pois a história flui normalmente. Todos os elementos que caracterizam locais na Inglaterra, bem como os personagens do livro, foram adaptados ao contexto japonês: no filme, por exemplo, a região de Norfolk virou uma pequena comunidade ao norte da ilha de Hokkaido, Londres virou Sapporo, e Anna Preston virou Anna Sasaki.
Infelizmente, nenhuma editora brasileira traduziu When Marnie was there, o que é uma pena, pois é um livro excelente para crianças e adultos, dá para ser lido rapidinho. Eu consegui comprar um exemplar em inglês da Harper Collins através do site de compras internacionais Book Depository, que vende exemplares em vários idiomas por preços competitivos e oferece frete gratuito para vários países, incluindo o Brasil. Se você tiver um cartão de crédito internacional e não se importar muito com a variação do preço do dólar, é uma boa opção frente aos preços praticados pelas livrarias brasileiras que importam e ainda colocam suas margens de lucro lá em cima. Só tenha paciência, pois meu livro comprei no final de julho e recebi apenas no final de novembro. No final, valeu muito a pena, recebi o livro intacto e sem avarias, pagando menos de 9 dólares.
(Uma dica para quem tem ansiedade: compre o livro e esqueça que comprou. Como se você tivesse comprado algo no Aliexpress e a encomenda ficasse retida naquele buraco negro dos Correios localizado em Curitiba.)
Para finalizar, eu recomendo, com todas as forças, que vocês possam ler o livro e assistir ao filme, não importa muito a ordem em que vocês farão essas coisas. Gostei muito de ambos, coloquei entre os favoritos de 2015 – embora seja esquisito isso, pois não assisto muitos filmes e minha meta de leitura ficou bem abaixo do esperado.