Resenha: When Marnie was there
When Marnie was There
Joan G. Robinson
Harper Collins UK
286 páginas
Joan G. Robinson
Harper Collins UK
286 páginas
A resenha deste post não é sobre um livro de autor japonês, chinês ou coreano, mas sobre a obra de uma escritora inglesa. É estranho, eu sei, já que o propósito do blog é focar especificamente na literatura do Extremo Oriente, na tríade China-Coreia-Japão, o que torna este blog um pouco mais restrito. Mas acho que posso me dar ao luxo de realizar algumas exceções, principalmente se o livro resenhado virou filme pelas mãos de um famoso estúdio de animação japonesa.
(E eu gostaria de informar que vou colocar não apenas resenhas de livros, mas qualquer outra informação que tenha relação com autores ou trabalhos orientais)
Para dar início a essa mudança, prefiro começar com um livro que foi recentemente adaptado pelo Estúdio Ghibli, When Marnie was there, de Joan G. Robinson. O filme Omoide no Marnie foi lançado em julho de 2014 no Japão, mas chegou ao Brasil apenas na segunda quinzena de novembro de 2015, exibido em algumas poucas salas pelo país.
Sobre a autora
Joan Gale Thomas nasceu em 1910, em Buckinghamshire, Inglaterra. Ilustradora, Joan trabalhava fazendo desenhos para publicações de outros autores, até que em 1939 decidiu lançar seu próprio livro, A Stands for Angel. Sob o sobrenome Thomas, a escritora lançou vários livros de temática religiosa voltados para crianças: If Jesus Came to my House, My book about Christmas, If I'd Born in Bethlehem, Christmas Angel, Where's God?, Our Father, entre outros.
Em 1941, após casar-se com o também autor e ilustrador Richard Robinson, Joan mudou a temática de seus livros, deixando de lado as histórias religiosas para focar em enredos temporais. Além de When Marnie was there, a autora é conhecida pelas histórias do ursinho Teddy Robinson e da menina Mary-Mary, clássicos da literatura infantil britânica. Em When Marnie was There, a ilustração dos capítulos ficou a cargo da artista Peggy Fortnum, bastante conhecida pelos desenhos do ursinho Paddington, de Michael Bond.
Joan G. Robinson faleceu em 1988, na Inglaterra, aos 78 anos.
O livro
Para a menina Anna, as crianças são separadas em dois grupos: as que ficam do lado de fora (outside) e as que ficam do lado de dentro (inside) de um círculo mágico invisível. As que ficam do lado de dentro são aquelas que possuem mais desenvoltura na linguagem de fazer amigos, as que são convidadas a participar de passeios e brincadeiras. As pertencentes ao grupo do lado de fora são as crianças que não possuem traquejo social, que estão sempre excluídas de atividades em grupo ou não despertam a atenção dos outros, como se fossem seres invisíveis e insossos.
Pertencente ao grupo dos que ficam do lado de fora, Anna passa a maior parte do seu tempo pensando no nada. Sua inércia em termos de amizades preocupa a mãe adotiva, Sra Preston, que reclama com a menina, dizendo que ela nem ao menos tenta ser amigável com as outras crianças. Soma-se a esse desastre no campo dos relacionamentos o fato da menina ter asma, doença que a afasta do ambiente escolar por algumas semanas.
Disposta a quebrar o ar de indiferença de sua filha adotiva, a Sra. Preston então combina com seus velhos amigos, Susan e Sam Pegg, para que a menina fique longe de Londres e vá para a região ensolarada de Norfolk, mais precisamente na vila de Little Overton. De clima agradável e perto do mar, o chalé dos Pegg hospedará Anna por algumas semanas, para que ela se recupere da asma e tente fazer novos amigos. Inicialmente, Anna não parece muito animada com a ideia, e tudo o que ela não quer em Norfolk é ser obrigada a encontrar outras crianças e fazer amizades superficiais, que ressaltem sua característica de pertencer ao grupo do lado de fora.
Em andanças pela região próxima da praia, Anna vê uma casa localizada em um pântano. Essa residência velha e abandonada parece ter sido um lar abastado no passado, e sua aparência é bastante familiar, como se a menina a tivesse visto anteriormente. Após alguns dias investigando o entorno, Anna finalmente conhece a misteriosa moradora da casa, uma menina chamada Marnie, que não é quem aparenta ser. Em pouco tempo, as duas viram grandes amigas e compartilham situações familiares que, se não são semelhantes, são dolorosas.
Mas chega o dia em que Marnie desaparece e deixa a amiga para trás, uma separação que ocorre de maneira brusca e sem motivos claros. Ao investigar o que se passou na velha casa do pântano e conhecer os novos moradores do local, Anna descobre as razões do desaparecimento de Marnie e conhece mais sobre seu próprio passado.
Minhas impressões
When Marnie was there é um livro aconchegante, que começa num ritmo lento com as descobertas de Anna na vila de Little Overton e sua paisagem praiana. Com a aparição de Marnie, uma garota travessa, a rotina de Anna em Norfolk ganha dinamismo e fôlego, o que torna o livro mais delicioso para ser apreciado. Os passeios de barco e em torno da casa do pântano que as duas meninas fazem são momentos agradáveis em que o mundo chato e regrado dos adultos não realiza interferências.
Pessoalmente, eu gostei muito deste livro porque me identifico bastante em relação a Anna e suas dificuldades no quesito amizades. Como ela diz em certa altura do livro, ela prefere conhecer sobre as outras crianças do que conhecê-las pessoalmente. Se as outras crianças desejassem conhecer Anna, tudo perderia a graça e seu plano de ficar sozinha seria destruído: os outros meninos e meninas fariam com que ela passasse a gostar de tudo o que eles gostassem, fariam com que ela fizesse tudo o que eles fizessem, fariam com que ela tivesse tudo o que eles tivessem. No momento em que descobrirem que Anna não corresponde àquilo que eles esperam dela, seu interesse pela menina será deixado de lado. As demais crianças então ficarão do lado de dentro, vendo de maneira curiosa a Anna deixada do lado de fora.
Uma coisa que fiz em relação a este livro foi imaginar os personagens como se eles tivessem as mesmas características visuais do filme do estúdio Ghibli. Como assisti ao filme antes de ler o livro, a imagem de Anna como uma tomboy e Marnie como uma garota de longos cabelos loiros ficou fixada na minha mente, e não consegui imaginá-las de outra forma. Mesmo as ilustrações de Peggy Fortnum não foram capazes de realizar uma mudança em minha cabeça. Há alguns personagens do livro que não estão presentes no filme, e é aí que tento imaginar como eles seriam se fossem personagens do filme.
É um livro de certa forma triste, porque logo no início sabemos que Anna foi adotada ainda pequena pelos Preston, chamados de tio e tia pela protagonista. Marnie também tem uma história sofrida, que num certo ponto do livro se cruzará com a de sua amiga Anna. Em algumas ocasiões, pensei que a palavra-chave para este livro fosse abandono, pois foi essa a impressão que tive lendo sobre o passado das duas meninas.
Boa parte do que se passa no livro foi mostrado no filme, então creio que a adaptação do estúdio Ghibli foi de certa forma fiel ao que Joan G. Robinson escreveu. Há alguns personagens que não aparecem na versão animada, mas isso não faz muita diferença, pois a história flui normalmente. Todos os elementos que caracterizam locais na Inglaterra, bem como os personagens do livro, foram adaptados ao contexto japonês: no filme, por exemplo, a região de Norfolk virou uma pequena comunidade ao norte da ilha de Hokkaido, Londres virou Sapporo, e Anna Preston virou Anna Sasaki.
(E eu gostaria de informar que vou colocar não apenas resenhas de livros, mas qualquer outra informação que tenha relação com autores ou trabalhos orientais)
Para dar início a essa mudança, prefiro começar com um livro que foi recentemente adaptado pelo Estúdio Ghibli, When Marnie was there, de Joan G. Robinson. O filme Omoide no Marnie foi lançado em julho de 2014 no Japão, mas chegou ao Brasil apenas na segunda quinzena de novembro de 2015, exibido em algumas poucas salas pelo país.
Sobre a autora
Joan Gale Thomas nasceu em 1910, em Buckinghamshire, Inglaterra. Ilustradora, Joan trabalhava fazendo desenhos para publicações de outros autores, até que em 1939 decidiu lançar seu próprio livro, A Stands for Angel. Sob o sobrenome Thomas, a escritora lançou vários livros de temática religiosa voltados para crianças: If Jesus Came to my House, My book about Christmas, If I'd Born in Bethlehem, Christmas Angel, Where's God?, Our Father, entre outros.
Em 1941, após casar-se com o também autor e ilustrador Richard Robinson, Joan mudou a temática de seus livros, deixando de lado as histórias religiosas para focar em enredos temporais. Além de When Marnie was there, a autora é conhecida pelas histórias do ursinho Teddy Robinson e da menina Mary-Mary, clássicos da literatura infantil britânica. Em When Marnie was There, a ilustração dos capítulos ficou a cargo da artista Peggy Fortnum, bastante conhecida pelos desenhos do ursinho Paddington, de Michael Bond.
Joan G. Robinson faleceu em 1988, na Inglaterra, aos 78 anos.
O livro
Para a menina Anna, as crianças são separadas em dois grupos: as que ficam do lado de fora (outside) e as que ficam do lado de dentro (inside) de um círculo mágico invisível. As que ficam do lado de dentro são aquelas que possuem mais desenvoltura na linguagem de fazer amigos, as que são convidadas a participar de passeios e brincadeiras. As pertencentes ao grupo do lado de fora são as crianças que não possuem traquejo social, que estão sempre excluídas de atividades em grupo ou não despertam a atenção dos outros, como se fossem seres invisíveis e insossos.
Pertencente ao grupo dos que ficam do lado de fora, Anna passa a maior parte do seu tempo pensando no nada. Sua inércia em termos de amizades preocupa a mãe adotiva, Sra Preston, que reclama com a menina, dizendo que ela nem ao menos tenta ser amigável com as outras crianças. Soma-se a esse desastre no campo dos relacionamentos o fato da menina ter asma, doença que a afasta do ambiente escolar por algumas semanas.
Disposta a quebrar o ar de indiferença de sua filha adotiva, a Sra. Preston então combina com seus velhos amigos, Susan e Sam Pegg, para que a menina fique longe de Londres e vá para a região ensolarada de Norfolk, mais precisamente na vila de Little Overton. De clima agradável e perto do mar, o chalé dos Pegg hospedará Anna por algumas semanas, para que ela se recupere da asma e tente fazer novos amigos. Inicialmente, Anna não parece muito animada com a ideia, e tudo o que ela não quer em Norfolk é ser obrigada a encontrar outras crianças e fazer amizades superficiais, que ressaltem sua característica de pertencer ao grupo do lado de fora.
Em andanças pela região próxima da praia, Anna vê uma casa localizada em um pântano. Essa residência velha e abandonada parece ter sido um lar abastado no passado, e sua aparência é bastante familiar, como se a menina a tivesse visto anteriormente. Após alguns dias investigando o entorno, Anna finalmente conhece a misteriosa moradora da casa, uma menina chamada Marnie, que não é quem aparenta ser. Em pouco tempo, as duas viram grandes amigas e compartilham situações familiares que, se não são semelhantes, são dolorosas.
Mas chega o dia em que Marnie desaparece e deixa a amiga para trás, uma separação que ocorre de maneira brusca e sem motivos claros. Ao investigar o que se passou na velha casa do pântano e conhecer os novos moradores do local, Anna descobre as razões do desaparecimento de Marnie e conhece mais sobre seu próprio passado.
Minhas impressões
When Marnie was there é um livro aconchegante, que começa num ritmo lento com as descobertas de Anna na vila de Little Overton e sua paisagem praiana. Com a aparição de Marnie, uma garota travessa, a rotina de Anna em Norfolk ganha dinamismo e fôlego, o que torna o livro mais delicioso para ser apreciado. Os passeios de barco e em torno da casa do pântano que as duas meninas fazem são momentos agradáveis em que o mundo chato e regrado dos adultos não realiza interferências.
Pessoalmente, eu gostei muito deste livro porque me identifico bastante em relação a Anna e suas dificuldades no quesito amizades. Como ela diz em certa altura do livro, ela prefere conhecer sobre as outras crianças do que conhecê-las pessoalmente. Se as outras crianças desejassem conhecer Anna, tudo perderia a graça e seu plano de ficar sozinha seria destruído: os outros meninos e meninas fariam com que ela passasse a gostar de tudo o que eles gostassem, fariam com que ela fizesse tudo o que eles fizessem, fariam com que ela tivesse tudo o que eles tivessem. No momento em que descobrirem que Anna não corresponde àquilo que eles esperam dela, seu interesse pela menina será deixado de lado. As demais crianças então ficarão do lado de dentro, vendo de maneira curiosa a Anna deixada do lado de fora.
Uma coisa que fiz em relação a este livro foi imaginar os personagens como se eles tivessem as mesmas características visuais do filme do estúdio Ghibli. Como assisti ao filme antes de ler o livro, a imagem de Anna como uma tomboy e Marnie como uma garota de longos cabelos loiros ficou fixada na minha mente, e não consegui imaginá-las de outra forma. Mesmo as ilustrações de Peggy Fortnum não foram capazes de realizar uma mudança em minha cabeça. Há alguns personagens do livro que não estão presentes no filme, e é aí que tento imaginar como eles seriam se fossem personagens do filme.
É um livro de certa forma triste, porque logo no início sabemos que Anna foi adotada ainda pequena pelos Preston, chamados de tio e tia pela protagonista. Marnie também tem uma história sofrida, que num certo ponto do livro se cruzará com a de sua amiga Anna. Em algumas ocasiões, pensei que a palavra-chave para este livro fosse abandono, pois foi essa a impressão que tive lendo sobre o passado das duas meninas.
Boa parte do que se passa no livro foi mostrado no filme, então creio que a adaptação do estúdio Ghibli foi de certa forma fiel ao que Joan G. Robinson escreveu. Há alguns personagens que não aparecem na versão animada, mas isso não faz muita diferença, pois a história flui normalmente. Todos os elementos que caracterizam locais na Inglaterra, bem como os personagens do livro, foram adaptados ao contexto japonês: no filme, por exemplo, a região de Norfolk virou uma pequena comunidade ao norte da ilha de Hokkaido, Londres virou Sapporo, e Anna Preston virou Anna Sasaki.
Infelizmente, nenhuma editora brasileira traduziu When Marnie was there, o que é uma pena, pois é um livro excelente para crianças e adultos, dá para ser lido rapidinho. Eu consegui comprar um exemplar em inglês da Harper Collins através do site de compras internacionais Book Depository, que vende exemplares em vários idiomas por preços competitivos e oferece frete gratuito para vários países, incluindo o Brasil. Se você tiver um cartão de crédito internacional e não se importar muito com a variação do preço do dólar, é uma boa opção frente aos preços praticados pelas livrarias brasileiras que importam e ainda colocam suas margens de lucro lá em cima. Só tenha paciência, pois meu livro comprei no final de julho e recebi apenas no final de novembro. No final, valeu muito a pena, recebi o livro intacto e sem avarias, pagando menos de 9 dólares.
(Uma dica para quem tem ansiedade: compre o livro e esqueça que comprou. Como se você tivesse comprado algo no Aliexpress e a encomenda ficasse retida naquele buraco negro dos Correios localizado em Curitiba.)
Para finalizar, eu recomendo, com todas as forças, que vocês possam ler o livro e assistir ao filme, não importa muito a ordem em que vocês farão essas coisas. Gostei muito de ambos, coloquei entre os favoritos de 2015 – embora seja esquisito isso, pois não assisto muitos filmes e minha meta de leitura ficou bem abaixo do esperado.
Astral do livro:
Avaliação:
0 comentários:
Postar um comentário