terça-feira, 25 de setembro de 2012

Resenha: O marinheiro que perdeu as graças do mar




O marinheiro que perdeu as graças do mar
Yukio Mishima
Editora Rocco
155 páginas
2ª edição
Tradução de Waltensir Dutra


Este livro de Yukio Mishima foi o segundo que li até agora, depois de "Mar Inquieto". Lembro que "O marinheiro que perdeu as graças do mar" foi comprado numa dessas lojas tipo 1,99, provavelmente vindo de algum estoque encalhado de livraria. A edição que peguei é de 1986, lançada pela Rocco, que poderia trazê-la de volta ao seu catálogo.

"O marinheiro que perdeu as graças do mar" tem como protagonistas o menino Noboru, sua mãe Fusako Kuroda e o marinheiro Ryuji Tsukazaki. Noboru é órfão de pai e possui uma vida confortável ao lado de sua mãe, que administra o comércio de itens de luxo da família desde a morte de seu marido. Ryuji é o segundo piloto do navio Rakujo e é também um homem não muito sociável, que vê na profissão de marinheiro uma maneira de escapar da terra, viajando pelos mais diversos cantos do planeta.

O enredo começa com Noboru sendo trancado no próprio quarto à noite pela própria mãe, situação humilhante para um menino de 13 anos. Certa manhã, sozinho em casa, Noboru começa a mexer nos móveis de seu quarto, até descobrir um pequeno furo na parede, escondido em meio às gavetas de uma das cômodas. O furo permite ao garoto enxergar o que se passa no quarto ao lado, que pertence a sua mãe.

Numa noite, o garoto espia o quarto ao lado através do furo na parede e vê Fusako e Ryuji fazendo sexo. A partir desse envolvimento entre a mãe e o marinheiro, Noboru começa a alimentar um sentimento de ódio e desprezo em relação a Ryuji, anotando o que seriam pontos negativos do marinheiro em um diário. Sua rejeição ao novo parceiro da mãe é levada constantemente para as conversas da gangue da qual faz parte: seis meninos de 13 anos que compartilham uma repulsa ao mundo dos adultos e à figura paterna. Longe dos olhos dos adultos, todos os integrantes da gangue comportam-se de maneira nada inocente.

O romance é centrado basicamente no desenrolar do relacionamento entre Fusako e Ryuji, e como o marinheiro passa a encarnar a figura paterna para Noboru. A viúva briga com seus próprios sentimentos e reluta até certo ponto em admitir sua paixão pelo marinheiro, enquanto este quer que Fusako seja o motivo para ficar em terra firme. Diferente de muitos de seus colegas que viraram marinheiros porque gostavam do mar, Ryuji virou um oficial da marinha mercante porque não gostava da imobilidade da terra. Por fim, o marinheiro acaba trocando a vida no mar pelo amor localizado na terra firme.

A presença de Ryuji na casa e nos negócios da família Kuroda, substituindo o marido falecido de Fusako, acaba por abalar o mundo de Noboru. O menino, que ficou órfão de pai aos oito anos, agora é chamado de filho pelo marinheiro, algo considerado grave para a gangue - pais são considerados um estorvo para o progresso dos filhos, depositando seus sonhos não realizados na prole. É contra a figura de Ryuji e o perigo que ele representa a Noboru que a gangue passará a agir com mais frieza e violência. O desfecho o autor não entrega de bandeja, mas o leitor consegue imaginar o que se segue depois de terminada a leitura.

É um livro bonito, mas que se torna cruel principalmente nas reuniões da gangue de Noboru, com os meninos que voltam seu ódio ao mundo adulto. As passagens focadas nos sentimentos de Fusako e de Ryuji mostram o quanto um deseja o outro, e nas reservadas a Noboru o que se vê é uma inquietação do menino, um incômodo com a figura do marinheiro que trocou o mar por uma vida comum.

O livro é curto mas bem envolvente, algo que me surpreendeu. Digo isso porque quando li "Mar Inquieto", quase 10 anos atrás, tinha uma grande expectativa sobre as obras de Mishima, alimentada principalmente depois de ler uma reportagem na revista Bravo. Fiquei decepcionada com o enredo de Mar Inquieto, provavelmente porque foi a primeira leitura que fiz de um autor diferente do que estava acostumada a ler. Mas agora que fui cativada pela leitura de "O marinheiro...", acho que vou dar uma segunda chance à outra obra de Mishima.

Astral do livro: 




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